Belo Horizonte (RV) - A Igreja Católica, ao anunciar o Evangelho de Jesus Cristo,
é chamada a escutar os clamores do povo e a se envolver com os desafios que interpelam
a sociedade. Em razão da questão central de valores e princípios perenes, ela tem
o dever profético de ser orientadora e capaz de ajudar no desenho de horizontes humanitários,
éticos e marcados pela espiritualidade que aponta o sentido autêntico da vida.
Nesta
missão, a Igreja compreende a exigência de atuar sabendo que a evangelização está
unida à promoção humana e ao autêntico sentido cristão. A secularidade da sociedade
contemporânea não pode impedir a ação da força insubstituível dos valores do Evangelho.
Essa é uma batalha grande. Os rumos adotados podem comprometer alicerces sustentadores
de uma sociedade marcada pelo sentido de solidariedade, fecundada pela ética e capaz
de respeitar in totum o sentido nobre e intocável da dignidade humana.
Assim,
o fenômeno da globalização não deve dispensar a necessária orientação advinda de fontes
insubstituíveis como o Evangelho de Jesus Cristo. Seu anúncio e testemunho são tarefas
da mais alta significação na sociedade, respondendo por horizontes e perspectivas
humanísticas para edificar uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
E,
ante o risco e real deterioração ética, está a Igreja Católica na sua missão de orientar.
Esta orientação compreende a indicação de dinâmicas e parâmetros para que cada pessoa
qualifique sua existência e assente o sentido de sua individualidade numa espiritualidade
que a leve ao desabrochamento humano e ao compromisso com tudo o que diz respeito
à cidadania. A iluminação própria do Evangelho precisa incidir sobre a realidade que
configura a vida. Essa perspectiva indica a razão pela qual a Igreja Católica convoca
seus membros e todos os segmentos da sociedade, em diálogo e cooperação, para protagonizar
ações de maior impacto, por exemplo, na área da saúde. Estão ecoando, como é o propósito
da Campanha da Fraternidade 2012, “Fraternidade e Saúde Pública”, as contribuições
recentes da Igreja nesta área tão importante para a população.
Também, neste
ano eleitoral, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nas dioceses
e paróquias, em uma importante rede de grande capilaridade, à luz dos princípios éticos
do Evangelho, a Igreja orienta suas comunidades eclesiais e as pessoas para que estejam
atentos e se preparem para uma participação cidadã. A Igreja sublinha que é imprescindível
refletir bem e construir novas práticas e posturas para que passos decisivos sejam
dados na consolidação da democracia. O primeiro passo será sempre a busca de uma construção
da consciência coletiva que leve o povo a se constituir como sujeito do processo político.
Orienta-se que esta preocupação e empenho sejam assumidos por grupos comunitários,
organismos ou pastorais da Igreja, por serem considerados espaços de aglutinação e
coordenação desse processo, em busca da construção da cidadania. Observa-se que é
fundamental a formação da consciência de que o novo Brasil e o novo município virão
com a participação cidadã e comprometida de todos.
É importante ponderar que
as eleições municipais têm, acentua a CNBB, um distintivo em relação às demais, por
colocar em disputa os projetos que discutem sobre os problemas mais próximos do cidadão:
educação, saúde, segurança, trabalho, transporte, moradia, lazer e ecologia. Ora,
os candidatos são mais visíveis e a proximidade deve contribuir para que a escolha
seja a mais acertada. É preciso verificar quem tem condições, entendimento e compromisso
para a execução de políticas públicas adequadas. Mais uma vez é preciso que fique
claro para o eleitor que seu voto, embora seja um gesto pessoal e intransferível,
tem consequências para a sua vida e o futuro do Brasil. A eleição não é uma loteria.
Não se pode arriscar inconscientemente. Instrumentos e conquistas do povo, como as
Leis 9840/1999, contra corrupção e manipulações eleitorais, e 135/2010, a conhecida
Ficha Limpa, são usados nesta tarefa cidadã de votar e escolher bem.
O exercício
da cidadania não se esgota no voto. Os desdobramentos influenciarão na construção
de uma nova civilização pela competência, credibilidade e ética dos escolhidos para
o exercício dos cargos públicos. É hora de articular grupos de fé e política, estudar
e estimular os jovens no seu direito de votar. Oportuno é recordar a palavra sábia
e de perene significação do Papa Paulo VI quando disse: “A política é uma maneira
exigente de viver o compromisso cristão a serviço dos outros”.
Dom Walmor
Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte