Tráfico de pessoas em Moçambique preocupa a Igreja
Maputo (RV) - Bispos Católicos da África Austral estiveram reunidos no mês
de maio em Maputo, Moçambique, com instituições do Estado e organizações não governamentais
(ONGs) à procura de soluções para evitar o tráfico de seres humanos na região. A Igreja
Católica local recorre à campanhas de sensibilização nas comunidades e distribuição
de panfletos, durante as cerimônias religiosas.
Raul tinha nove anos quando
desapareceu no dia 23 de fevereiro de 2012 e nunca mais foi visto. Foi sequestrado
por um indivíduo que aparentemente era amigo da família. Devido a histórias como esta,
foi realizada uma reunião na intenção de travar este fenômeno. Os panfletos distribuídos,
como parte da campanha de mobilização contra o tráfico de pessoas, contêm informações
principalmente sobre os perigos às crianças e às mulheres. Porém, não há meios suficientes
para concretizar campanhas completas, segundo o Padre Inácio. A opção encontrada foi
procurar financiadores para pagar a elaboração de brochuras informativas.
As
zonas rurais são as mais propícias ao crime porque as comunidades estão desprotegidas,
esclarecem os religiosos católicos. Não há informação suficiente sobre este tipo de
crime, acredita o Padre.
Os prelados apelam às instituições judiciais. O Procurador
Geral da República de Moçambique, Augusto Paulino, sugeriu cooperação. Para ele, um
dos desafios a ser vencido é a incompatibilidade das legislações regionais e internacionais.
Segundo a religiosa Irmã Pilar de la Puerta, da Arquidiocese de Pemba, ninguém faz
nada com relação aos desaparecimentos. É necessário uma equipe interdisciplinar para
abordar o tema, acredita. "O Observatório Político e de Pesquisa Social deveria ser
um grupo de reflexão para fazer uma pesquisa social e crítica baseada em dados", defende
ela.
Durante o encontro, os bispos partilharam experiências no combate ao crime.
Dom Vicente Kiaziku, da Arquidiocese de Mbanza Kongo, em Angola, disse que muitos
jovens e crianças são traficados para o Congo Democrático para trabalhar nas minas
como escravos. "Há uma política de prevenção do Estado que tenta sensibilizar as famílias
para que não abandonem as crianças, que instruam-nas a não aceitar presentes ou ofertas
de desconhecidos", explica o religioso de Mbanza Kongo.
Elisabeth Todd, do
Ministério Público da África do Sul, disse que este crime não tem leis específicas.
"É uma situação crítica e até agora tratamos caso a caso, usando as leis que existem,
como a lei dos procedimentos criminais, a lei de ofensas sexuais", conta. Grande parte
das pessoas traficadas na África Austral, principalmente adolescentes, vai parar na
África do Sul como escrava da prostituição.