Cidade do Vaticano (RV) – Vivemos
e sentimos particularmente aqui na Europa, na Itália, as consequências da atual crise
econômica que atinge de modo consistente países que outrora foram porto seguro para
milhares de pessoas mudarem de vida e terem esperança em um futuro melhor. São milhões
as famílias européis que hoje devem recalcular seu orçamento para fechar o mês, e
muitas delas não conseguem, dando vida assim a um exército de novos pobres. Governos
tentam fazer com que a roda da amargura, do espectro da pobreza endêmica se dissipe
na suas manobras e pacotes – basta pensar na Grécia – mas ainda estamos longe de sair
daquele túnel cuja luz é ainda muito fraca.
Neste universo de novos pobres
emege com mais consistência a presença das organizações humanitárias, aquelas que
uma vez só se ocupavam dos pobres das periferidas dos países chamados do “terceiro
mundo”. Esse terceiro mundo agora começa se fazer presente em terras do “primeiro
mundo”. Mas o dilema que nasce com essa situação é que também as organizações humanitárias
padecem a crise mundial e consequentemente sua atuação junto aos pobres do planeta
fica debilitada. Os dados são eloquentes; estão diminuindo as entradas, os financiamentos,
sobretudo daqueles países ricos que hoje devem também administrar o problema dos novos
pobres dentro de casa. A diminuição de fundos de organizações humanitárias, como por
exemplo a Caritas da Igreja Católica se repercute na diminuição de financiamentos
para novos projetos e apoio a realidades que existem somente porque a Caritas esta
presente.
Neste universo de novas preocupações, todavia, evidencia-se uma
nova realidade tangível, perceptível, o aumento da solidariedade do povo, das pessoas
individualmente. Talvez, vivendo na própria pele uma crescente pobreza ou observando
de perto a pobreza, as pessoas se sentem mais responsáveis pelo outro e pelos seus
sofrimentos; aumenta assim, quando diminui a riqueza, o índice de solidariedade.
No
início deste ano, quando recebeu no Vaticano os administradores da Região do Lácio,
onde se encontra Roma, Bento XVI afirmou que a atual crise econômica e financeira
global pode se tornar uma ocasião para a promoção de uma “verdadeira renovação da
sociedade” que defenda o bem integral da pessoa. Em outras palavras, a criação de
uma sociedade mais justa, equitativa e solidária. Solidariedade é a chave de tudo,
pois dá à sociedade um rosto mais humano.
A crise, certamente tem raízes também
no egocentrismo de ações pensadas somente no proveito próprio, em detrimento a uma
ação centralizada no homem. O olhar é quase sempre superficial marginalizando situações
de pobreza extrema.
A situação atual que atinge também organismos como a Caritas
e o seu trabalho diretamente com os mais necessitados, concede a oportunidade a cada
um de nós de fazer a sua parte, sendo solidários com quem está ao nosso lado e vive
momentos de dificuldade. Uma oportunidade única para vivermos a experiência dos primeiros
cristãos que colocavam tudo em comum e se preocupavam com todos. Uma oportunidade
de renovação da fé, de nova evangelização, de um novo homem. É o momento de valorizar
a solidariedade, uma exigência nos nossos dias. (Silvonei José)