Dom Vegliò participa de debate sobre a situação das mulheres migrantes
Roma (RV) – Na manhã desta quinta-feira, o Centro de Estudos Americanos hospedou
um encontro sobre o tema “Construir pontes de oportunidades: mulheres e migrações”.
O evento foi uma iniciativa do Embaixador dos Estados Unidos junto à Santa Sé, Miguel
Diaz, e contou com a participação do Presidente do Pontifício Conselho para os Migrantes
e Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Vegliò.
Os debates giraram em torno das
questões relativas à vulnerabilidade das mulheres migrantes, e o Cardeal Vegliò, em
seu discurso, pôs ênfase no papel da Igreja e seu trabalho com a questão da migração
feminina forçada. Destacou, inicialmente, a coragem, a criatividade e o espírito de
iniciativa com que as mulheres enfrentam as situações que se apresentam.
Conforme
afirma o Cardeal, “elas crêem com todo o coração que o futuro possa oferecer mudanças
e possibilidades e têm confiança na reconstrução das suas vidas”. “Se vê pelos seus
sorrisos - mostra Dom Vegliò -, que parecem dizer ”.
O
purpurado lembra que, contudo, cada uma delas viveu uma situação trágica de brutalidade,
violência e experiências traumáticas. Dom Vegliò ressaltou que “hoje, a maior parte
dos conflitos no mundo são constituídos de guerra civil, na qual os cidadãos representam
mais de 80% dos mortos”. E dentre os civis obrigados a abandonar suas casas, a maioria
são mulheres.
O Cardeal traz o dado de que, atualmente, 43 milhões de pessoas
vivem longe de suas casas por motivos de guerra ou violações de Direitos Humanos.
Destas, 80% são mulheres, crianças e jovens. “Mulheres e meninas se tornam alvo de
numerosos conflitos, raptos e brutalidades”, insistiu o purpurado, acrescentando que
o objetivo é desumaniza-las, destruir a vida cotidiana das comunidades e criar o pânico.
As mulheres são violentadas, obrigadas à escravidão sexual. O estupro é utilizado
como arma de guerra, em uma tentativa de destruir e desestabilizar a cultura adversária,
com os objetivos finais de genocídio e controle do território.
O Cardeal o
Vegliò falou também sobre as mulheres que vivem nos campos de refugiados. Ele ressalta
que a permanência nesses locais é de 17 anos em média. Crianças nascem e se tornam
adultos ali, minando suas esperanças de futuro.
Ficam poucas alternativas.
As que se estabelecem nas áreas rurais estão desprotegidas e correm risco de violência
quando se afastam para recolher lenha para o fogo ou água. As que restam em área urbanas
permanecem em condições de absoluta pobreza e têm de disputar trabalho, serviços sociais
e infra-estrutura, o que fica muito difícil quando não se tem a situação civil legalizada.
Teoricamente, a normativa internacional em matéria de Direitos Humanos e Humanitário
garante aos refugiados o acesso aos bens de primeira necessidade, como alimento, abrigo,
vestuário e tratamento médico, mas também o direito ao trabalho e à livre circulação.
Na prática, isso não se verifica.
Sobre as organizações que se ocupam dos
refugiados mantidas pela Igreja, o Cardeal Vegliò citou a Jesuit Refugee Service,
a Comissão Católica Internacional para as Migrações, as Caritas locais, as Comissões
Episcopais e os representantes da Caritas Internationalis. Elas estão presentes nos
territórios onde há refugiados e dão assistência variada, preparando os assentamentos,
ocupando-se das necessidades físicas, psicológicas e psico-sociais das mulheres e
das meninas, inclusive organizando programas de reinserção social e econômica.
O
Presidente do Pontifício Conselho para os Migrantes e Itinerantes alertou ainda para
o que podem esconder os produtos de baixo custo oferecidos hoje no mercado, ou seja,
o trabalho forçado resultante do tráfico de seres humanos. Nesses casos, a Igreja
atua com a Rede Internacional da Vida Consagrada contra o Tráfico de Pessoas em 82
países, além da Coatnet, que, em 30 países, reúne organizações cristãs contra o tráfico
de seres humanos que atuam sob a autoridade jurídica da Caritas Internationalis. (ED)