2012-05-09 12:21:09

Estupro como arma de guerra na África. Ouça entrevista!


Cidade do Vaticano (RV) - RealAudioMP3 "O estupro como arma de guerra na África": este é o título de um livro que será lançado nos próximos dias, em Roma, escrito pela nigeriana Pauline Aweto, professora universitária em Londres.

A ideia do livro nasceu em Roma, em 2009, por ocasião do Sínodo dos bispos africanos. Durante a presença deles aqui, houve um episódio na Guiné de uma manifestação política onde cem pessoas foram mortas e 150 mulheres foram estupradas publicamente, num estádio. Naquele momento, a ONU lançou uma investigação sobre o estupro como arma de guerra na África e então o projeto deste livro foi concretizado.

A intenção de Pauline foi ampliar este debate, para lançar o discurso muito mais abrangente da violência contra as mulheres, como explicou em sua passagem pela Rádio Vaticano:

"O que acontece durante a guerra é a exaltação do que se passa todos os dias e do qual ninguém fala. Por que penalizar um crime numa guerra e não fazê-lo na cotidianidade, como se fosse algo normal? Na verdade, o título do livro deveria ser o estupro como arma de paz. Por exemplo, o estupro conjugal, ninguém fala disso, que é algo muito atual. Existem muitas práticas de violência contra a mulher e o livro é um discurso sobre a violência de gênero."

Segundo Pauline, a brutalidade é uma característica específica deste fenômeno na África:

"Comecei olhando o estupro como arma de guerra seja no Antigo Testamento, no saque de Roma, nos tempos modernos até de chegar ao aspecto africano. E no livro identifiquei seis elementos da especificidade da experiência. Por exemplo, o nível de brutalidade. De não somente matar a mulher, mas de esquartejá-la, de torturá-la. Então é muito, muito brutal. Todas as guerras são brutais, mas o nível de brutalidade africana é extremo. E depois há uso do machado, por exemplo, é algo muito específico da África. Mas o que me interessa muito mais é analisar a mulher grávida como alvo para estuprar – que vai contra qualquer razão e qualquer lógica, sobretudo na África, em que a vida era considerada sagrada – isso é realmente algo que não se pode entender. Por que escolher as mulheres grávidas para estuprar? Depois, o nível público é outro elemento. Esses crimes são cometidos publicamente, para mostrar aos outros. Normalmente, quando se comete um crime, se esconde, porém eles querem fazer tudo publicamente. Os elementos que caracterizam a experiência africana são muito diferentes do restante do mundo."

Mas o que está na base dessa discrepância de gênero?

"Um pouco é culpa da cultura, de como a mulher é concebida. Vejo a cultura africana essencialmente como violenta. Violência até mesmo no modo de falar, no relacionamento entre homem e mulher. Citei a prática de pagar o dote, que é como se o homem pagasse o preço pela mulher, então ela se torna minha propriedade e posso fazer dela o que quiser. Mesmo com a globalização, há elementos africanos que nunca se conseguem tocar, como esses aspectos culturais e tradicionais. E a mulher não consegue falar, porque sempre sofreu, a mulher africana nasce como uma mulher que aguenta tudo, sem refletir, deve somente aceitar. A vida da mulher está sempre ligada à vida do homem. Durante a guerra, atingem a mulher para chegar até o homem. Não é a mulher em si que é o alvo, mas atingem a mulher enquanto propriedade do homem. Portanto, seria necessário rever toda a cultura, começando com a educação das meninas, com a autoconsciência da própria vida, com a independência econômica, de a mulher poder tomar uma decisão sem ser necessariamente ligada ao homem. Quando uma mulher é autossuficiente, pode tomar decisões para sua vida."

(BF)







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