Papa visita a Policlínica Gemelli: "a face do homem sofredor é a mesma face de Cristo"

Roma (RV) – O Papa Bento XVI deixou nesta manhã o Vaticano para visitar a Universidade Católica do Sagrado Coração, em sua sede romana, por ocasião do 50º aniversário da criação da Faculdade de Medicina e Cirurgia “Agostino Gemelli”. O encontro ocorreu na praça diante do Auditório da Faculdade de Medicina e Cirurgia.

O Santo Padre foi recebido pelo Presidente do Instituto Giuseppe Toniolo de Estudos Superiores, Cardeal Angelo Scola, e pelo pró-Reitor Vigário da Universidade Católica, Franco Anelli. Em seguida, fez um discurso. Essa foi a 5ª vez, desde o início de seu pontificado, que Bento XVI visita a Universidade Católica e a Policlínica Gemelli.

No seu discurso o Papa destacou que “o nosso é um tempo no qual as ciências experimentais transformaram a visão do mundo e a mesma auto compreensão do homem. As muitas descobertas, as tecnologias inovadoras que se sucedem em ritmo acelerado, são razão de motivado orgulho, mas muitas vezes são acompanhadas de preocupações pelo mau uso das mesmas. De fato – disse o Papa - no fundo do difuso otimismo do conhecimento científico paira a sombra de uma crise do pensamento.

Rico de meios, mas não de fins - continuou Bento XVI -, o homem do nosso tempo vive muitas vezes condicionado pelo reducionismo e relativismo, que o levam a perder o sentido das coisas; quase deslumbrado pelo eficácia técnica, esquece o horizonte essencial da questão do sentido, relegando assim à insignificância a dimensão transcendente.

É importante então que a cultura redescubra o vigor do significado e o dinamismo da transcendência, em uma palavra, abra com decisão o horizonte quaerere Deum. Vem em mente - acrescentou o Papa - a famosa frase de Agostinho: “Criou-nos para Ti [Senhor], e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti” (Confissões, I, 1).

Pode-se dizer, afirmou o Santo Padre, que o impulso à pesquisa científica brota da nostalgia de Deus que habita no coração humano: afinal, o homem de ciência tende, muitas vezes inconscientemente, a alcançar a verdade que dá sentido à vida. Mas, por mais apaixonada e tenaz que seja a pesquisa humana, ela não é capaz com as próprias forças de chegar a um porto seguro, porque “o homem não é capaz de esclarecer completamente a estranha sombra que paira sobre a questão das realidades eternas ... Deus deve tomar a iniciativa de vir ao encontro e de falar ao homem” (J. Ratzinger, Europa de Bento na Crise de Culturas, Ignatius Press, Roma 2005, 124).

O Cristianismo, religião do Logos, - continuou o Papa - não relega a fé ao âmbito do irracional, mas atribui a origem e o sentido da realidade à razão criadora, que no Deus crucificado é manifestado como amor e nos convida a percorrer o caminho do quaerere Deum “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Queridos amigos, continuou o pontífice - deixem-se sempre ser guiados pela sabedoria que vem do alto, de um saber iluminado pela fé, lembrando que a sabedoria exige a paixão e trabalho árduo da pesquisa.

Insere-se aqui a tarefa insubstituível da Universidade Católica, lugar no qual a relação educativa é colocada a serviço da pessoa na construção de uma qualificada competência científica, enraizada em um patrimônio de conhecimentos que as muitas gerações destilou em sabedoria de vida; lugar onde a relação de cura não é profissão, mas missão; onde a caridade do Bom Samaritano é a primeira cátedra e a face do homem sofredor é a face mesma de Cristo.

O Papa dirigiu ainda uma saudação aos pacientes do Gemelli, assegurando a todos a sua oração e afeto, acrescentando que eles serão sempre seguidos com amor, porque nas suas faces reflete a de Cristo sofredor.

A visita do Papa realizou-se por ocasião da 1ª Jornada de pesquisa, organizada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia, com o tema “Uma vida pela pesquisa, a pesquisa pela vida”. (SP)