Bispos da CNBB divulgam nota sobre a Reforma do Código Penal
Aparecida (RV) - Os bispos reunidos na 50ª Assembleia Geral (AG) em Aparecida
(SP) aprovaram a criação de uma comissão para acompanhar o trabalho de reforma do
Código Penal brasileiro, que está sendo feito por um grupo de juristas no Senado Federal.
De
acordo com uma nota divulgada pelo episcopado, "a revisão do Código, em conformidade
com as conquistas asseguradas pela Constituição Federal de 1988, requer amplo diálogo
com a sociedade, portanto a legislação se torna mais consistente quando conta com
efetiva participação de representantes dos diversos segmentos sociais em sua elaboração".
O
presidente da Comissão Episcopal de Pastoral para a Comunicação da CNBB, Dom Dimas
Lara Barbosa, afirmou que se trata de um tema abrangente e delicado, e que as questões
levantadas por alguns setores preocupam a Igreja. "Aqueles que defendem a redução
da maioridade penal, a pena de morte, a descriminalização do aborto e alguns outros
temas que não levam em conta em primeiro lugar a pessoa humana", disse Dom Dimas.
"Esperamos
que o sentido de justiça, a serviço do bem maior – a pessoa humana - anime a todos
nesta tarefa, inspirados na palavra do Beato João Paulo II: 'A justiça sozinha não
basta; e pode mesmo chegar a negar-se a si própria, se não se abrir àquela força mais
profunda que é o amor' (Mensagem para o Dia Mundial da Paz – 2004)", lê-se ainda na
nota.
Segue a íntegra:
NOTA DA CNBB SOBRE A REFORMA DO CÓDIGO PENAL
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por ocasião da reforma do Código
Penal, encaminhada pelo Senado Federal através de uma Comissão de Juristas, expressa,
por missão e dever, seu interesse em acompanhar o processo em marcha e declarar seu
compromisso de corresponsabilidade na consolidação da democracia. Preocupam-nos
algumas propostas que devem ser apresentadas pela referida Comissão, relativas aos
capítulos que tratam sobre os crimes contra a vida e contra o patrimônio. Reconhecemos
que, para atender melhor às exigências da sociedade, o Código Penal em vigor, aprovado
em 1940, precisa incorporar elementos novos, exigência das grandes transformações,
que marcam os tempos atuais, sem prejuízo dos valores perenes como a vida e a família. A
revisão do Código, em conformidade com as conquistas asseguradas pela Constituição
Federal de 1988, requer amplo diálogo com a sociedade, porquanto a legislação se torna
mais consistente quando conta com efetiva participação de representantes dos diversos
segmentos sociais em sua elaboração. Tal prática reforça a democracia e ajuda a população
a assimilar melhor as normas jurídicas, que interferem profundamente em sua vida e
nos relacionamentos humanos e sociais. Os redatores do novo Código, de posse das
propostas encaminhadas pela Comissão de Juristas, considerem que toda lei deve ser
elaborada, a partir do respeito aos direitos humanos, na perspectiva de superação
da impunidade e a serviço do bem comum. Deve reconhecer e preservar os princípios
éticos e morais bem como os valores culturais que integram a vida quotidiana do povo
brasileiro. A Lei penal deve ser aplicada tendo por base os pressupostos de defesa
e promoção da dignidade humana em todas as dimensões, deixando claro que a punição
tem como finalidade a reabilitação do infrator, independente de sua condição social,
política, econômica, étnica, conforme determinam os artigos 3º e 5º da Constituição. Esperamos
que o sentido de justiça, a serviço do bem maior – a pessoa humana - anime a todos
nesta tarefa, inspirados na palavra do Beato João Paulo II: “A justiça sozinha não
basta; e pode mesmo chegar a negar-se a si própria, se não se abrir àquela força mais
profunda que é o amor” (Mensagem para o Dia Mundial da Paz – 2004). Que o Espírito
Santo ilumine o coração e a mente dos legisladores, Senadores e Deputados Federais,
sobre quem invocamos também a proteção de Nossa Senhora Aparecida para que, em comunhão
com todos os brasileiros, busquem realizar o que Jesus Cristo nos indica como promessa
e tarefa: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundancia” (Jo 10,10). Aparecida-SP,
25 de abril de 2012.
Raymundo Cardeal Damasceno AssisArcebispo de AparecidaPresidente
da CNBBDom José Belisário da SilvaArcebispo de São Luís do Maranhão – MAVice-presidente
da CNBBLeonardo Ulrich SteinerBispo Auxiliar de Brasília - DFSecretário Geral da CNBB