A serenidade e alegria interior do Papa sublinhada por Padre Lombardi, em entrevista
à RV
(19/04/2012) A Igreja celebrou ontem o 85º aniversário de Bento XVI. E já na próxima
quinta-feira, 19, ocorrerá o sétimo aniversário da eleição de Joseph Ratzinger para
a Sede de Pedro. Entrevistado por Alessandro Gisotti, o nosso diretor, Padre Federico
Lombardi, confessa com que sentimentos vive este duplo aniversário: R. - Diria… principalmente
dois sentimentos. Um é a gratidão ao Senhor por este Papa que nos guia com grande
força, gentileza e fé e que, portanto, é um dom de Deus. O outro é a admiração. Apesar
de ter começado já em idade avançada este ministério para a Igreja universal, trata-se
ainda assim de um pontificado muito rico e intenso, com tantas viagens e acontecimentos
muito importantes, com um Magistério intenso e multifacetado. Devemos por isso dizer
que é impressionante, admirável, o que o Papa conseguiu fazer nestes sete anos.
P.
– Pessoalmente, o que é que mais o impressiona do trato humano, do modo de ser
do homem Joseph Ratzinger? R.- O que mais me impressiona é a sua gentileza
e a sua atenção. A relação próxima com alguém, vive-a ele intensamente: ele escuta
mesmo o que o interlocutor tem a dizer e fá-lo com grandíssima atenção e respeito.
Tem, além disso; uma lucidez e uma clareza de pensamento e de expressão, uma densidade
de conteúdo que comunica – isto para além da sua gentileza e a sua atenção – que cativa
num modo verdadeiramente profundo.
P. – É difícil, para não dizer impossível,
traçar numa só resposta um balanço de sete anos de Pontificado. Se, no entanto, tivesse
que dizer qual é a dimensão que mais caraterizou estes anos, qual sublinharia? R.
– Diria que, neste pontificado, a Igreja concentrou-se no essencial da sua missão,
ou seja, na atenção prioritária a Deus, à relação do homem com Deus, à dimensão transcendente
da vida, à personalidade de Jesus Cristo como revelador do verdadeiro Rosto de Deus.
Portanto, esta dimensão religiosa do ministério da Igreja, num tempo em que aspetos
de carácter e de poder da Igreja se tornam cada vez mais secundários, parece-me ser
uma característica deste Pontificado. O Papa Bento XVI guia a Igreja para o centro
da sua missão.
P. – Nos últimos tempos o Papa sentiu-se amargurado pelos
acontecimentos internos do Vaticano, tais como as fugas de notícias. Um sentimento,
este, do qual também mons. Becciu falou recentemente. E, contudo, o Papa testemunha
serenidade e alegria… R. – Isso parece-me um episódio transitório. Os problemas
que o Papa sente (mesmo) são a secularização, o esquecimento de Deus, o relativismo
e a perda de referências e de orientação de tantas pessoas na época moderna. No que
diz respeito à Igreja, sem dúvida que sofreu com os aspectos de incoerência e de infidelidade
à missão e à sua dignidade. Nestes anos temos vivido também, com muito sofrimento,
com todo o debate acerca dos abusos. Parece-me serem estas as coisas que mais podem
fazer sofrer o Papa, e não as intrigas internas.
P. – Este elemento de alegria
e de serenidade, que encoraja, não obstante as preocupações, é algo lindo para quem
vê o Papa… R. – Não há dúvida! O Papa é um homem de fé, é um verdadeiro crente.
É aquele que pode ajudar a servir a Igreja como rocha da fé justamente porque ele
é o primeiro a crer. Neste sentido, a fé é fonte de uma serenidade e de uma alegria
profunda que ninguém pode tirar. A raiz da serenidade da alma do Papa Bento XVI é
a própria fé, e portanto a esperança que dela deriva.
D. – Normalmente,
quando alguém faz anos, dá-se uma prenda… Mas, digamos, qual é, ao inverso, o maior
dom que sente ter recebido, nestes anos, de Bento XVI? R. – Pessoalmente, apreciei
muitíssimo o livro sobre Jesus: pareceu-me um esforço pessoal que o Papa fez, para
além daqueles que eram os aspectos do ministério que se poderiam esperar dele, como
Papa, para manifestar – com a sua preparação teológica mas também com a sua espiritualidade
– a sua relação pessoal com Cristo. Isto, para cada um de nós e para cada crente e
cristão, é qualquer coisa de extremamente fundamental. O Papa… acho que nos ofereceu
a sua procura pessoal do Rosto de Cristo: é isso que considero o maior dom que dele
recebi.
D. – Que votos de felicitação gostaria de dirigir ao Santo Padre? R.
– Sinto muito a permuta de encorajamento vivida pelo Papa. Quer dizer: o Papa diz
muitas vezes: eu vim para vos confirmar na fé e para vos encorajar, mas sou grato
pelo encorajamento que me dais quando me respondeis com gratidão e com afeto, quando
me acolheis com espírito aberto e com entusiasmo. Os meus votos são, portanto, precisamente
estes: continuar a sentir esta permuta, para que também ele seja encorajado pela Igreja
e por tantas pessoas, no desenvolvimento do seu ministério.