A Igreja vive numa situação “muitas vezes dramática”, mas a desobediência não é “um
caminho” para a renovar: Bento XVI na homilia da Missa Crismal
(5/4/2012) Bento XVI presidiu hoje à Missa Crismal, na Basílica de São Pedro, perante
cerca de 1600 sacerdotes da Diocese de Roma, deixando duras críticas aos subscritores
de um “apelo à desobediência”, promovido por padres austríacos. O Papa reafirmou
as “decisões definitivas do magistério” católico, aludindo especificamente à questão
relativa à ordenação sacerdotal das mulheres, “a propósito da qual o beato Papa João
Paulo II declarou de maneira irrevogável que a Igreja não recebeu, da parte do Senhor,
qualquer autorização para o fazer”. Na celebração que deu início à Quinta-feira
Santa, no Vaticano, Bento XVI admitiu que a Igreja vive numa situação “muitas vezes
dramática”, mas sublinhou que a desobediência não é “um caminho” para a renovar a
Igreja. “Não anunciamos teorias nem opiniões privadas, mas a fé da Igreja da qual
somos servidores”, frisou. O “apelo à desobediência”, a que o Papa se referiu na
sua homilia, foi lançado em 2011 por cerca de algumas centenas de padres na Áustria,
com o apoio do movimento ‘Nós Somos Igreja’, e tem-se alargado a outras nações. O
documento exige o fim do celibato obrigatório, a ordenação sacerdotal de mulheres,
a ordenação sacerdotal de homens casados na Igreja de rito latino, a comunhão para
os divorciados em segunda união ou um maior protagonismo para os leigos. Para Bento
XVI, não é possível “dar crédito” aos autores deste apelo quando dizem que “é a solicitude
pela Igreja que os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar
a lentidão das instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos, para colocar
a Igreja à altura dos tempos de hoje”. O Papa voltou a questionar se a desobediência
“será verdadeiramente um caminho” a seguir para “uma verdadeira renovação”, ou, pelo
contrário, não é apenas “um impulso desesperado de fazer qualquer coisa”, de transformar
a Igreja segundo desejos e ideias pessoais. “Deus não olha para os grandes números
nem para os êxitos exteriores, mas consegue as suas vitórias sob o sinal humilde do
grão de mostarda”, assinalou. Neste contexto, Bento XVI pediu que os padres sejam
“homens que atuam a partir de Deus e em comunhão com Jesus Cristo”, o que, do seu
ponto de vista, exige duas coisas: “uma união íntima, mais ainda, uma configuração
a Cristo e, condição necessária para isso mesmo, uma superação de nós mesmos, uma
renúncia àquilo que é exclusivamente nosso, à tão falada autorrealização”. A homilia
papal deixou ainda preocupações com o “analfabetismo religioso” que cresce no meio
da atual sociedade e com “as pessoas que, relativamente à verdade, se encontram na
escuridão”. “Enquanto sacerdotes, preocupamo-nos naturalmente com o homem inteiro,
incluindo precisamente as suas necessidades físicas: com os famintos, os doentes,
os sem-abrigo; contudo, não nos preocupamos apenas com o corpo, mas também com as
necessidades da alma do homem: com as pessoas que sofrem devido à violação do direito
ou por um amor desfeito; com as pessoas que, relativamente à verdade, se encontram
na escuridão; que sofrem por falta de verdade e de amor. Preocupamo-nos com a salvação
dos homens em corpo e alma, explicou. Durante a celebração foram abençoados os
óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o óleo do crisma, os quais serão
levados esta tarde pelos padres de Roma para todas as paróquias, onde são utilizados
na celebração dos sacramentos do Batismo, Crisma, Ordem e Unção dos Doentes. Os
cardeais, bispos e padres presentes renovaram as promessas feitas na sua ordenação
sacerdotal. (homilia integral em Igreja)