O reconhecimento da ONU aos portadores da Síndrome de Down
Cidade do Vaticano
(RV) – Os portadores de Síndrome de Down viveram, no mês passado, um dia especial:
pela primeira vez as Nações Unidas comemoraram 21 de março como Dia Mundial da Síndrome
de Down. A data foi escolhida em referência à origem da síndrome: a presença de um
terceiro cromossomo de número 21, que causa a deficiência.
Um grupo de ativistas
brasileiros que têm a síndrome participou, na sede da ONU em Nova York, de uma conferência
para marcar a data. Inclusão social e respeito foram termos recorrentes no evento.
Para Carol, de 24 anos, a autoaceitação é fundamental.
“Nossa, é a primeira
vez que vim a Nova York. Isto aqui é um sonho, estar aqui na ONU. Eu estou muito feliz.
A pessoa com a síndrome de down, ela mesma têm que se respeitar, aceitar, ter um respeito.”
O
evento foi co-patrocinado pelas Missões do Brasil e da Polônia junto às Nações Unidas.
Os brasileiros aproveitaram o primeiro Dia Mundial da Síndrome de Down para lançar
na ONU o livro “Mude seu Falar que Eu Mudo meu Ouvir”. O manual, bilíngue em português
e inglês, foi escrito pelos próprios portadores e organizado pela Associação Carpe
Diem.
A presidente da entidade, Glória Moreira Salles, é mãe de uma jovem de
33 anos com Down. Para Glória, o Brasil está hoje mais preparado para apoiar as pessoas
com a síndrome do que há 30 anos.
"Não vou dizer que a inclusão na educação
esteja perfeita não. Mas tudo foi melhorando. Eu acho que o preconceito diminuiu demais,
ainda existe. Mas melhorou muito, muito. E eles estão procurando o espaço deles. Eu
acho que isso é o melhor de tudo. Eles estão sendo protagonistas desse trabalho todo
de estar presente nos lugares e falando por eles."
O preconceito ainda existe,
mas os jovens com síndrome de Down se esforçam para provar que é possível ter uma
rotina como qualquer pessoa. Beatriz, de 20 anos, trabalha em um restaurante e há
três meses, está namorando. Mas lembra das dificuldades que enfrentou nos tempos de
escola.
"Todos devem respeitar nosso ritmo e noso tempo. Eu frequentei uma
escola regular, normal. (A relação com os colegas de sala) era tranquila. Tudo bem
que tinha gente que não ia com a minha cara, mas tudo bem. Eu quero falar, para todo
mundo ouvir, que nós somos capazes de tudo. Até para namorar, casar, até trabalhar
nós conseguimos."
Ao discursar na abertura da conferência, a embaixadora do
Brasil, Maria Luiza Ribeiro Viotti, destacou a importância de incluir os portadores
de Down na sociedade:
“O Brasil tem avançado na implementação dos apoios necessários
ao pleno e efetivo exercício da capacidade legal por todas e cada uma das pessoas
com deficiência. Cada vez mais, nos empenhamos na equiparação de oportunidades para
que a deficiência não seja utilizada como motivo de impedimento à realização dos sonhos,
dos desejos e dos projetos.”
E foi exatamente o sonho pelo hipismo e a paixão
por cavalos que levou Cláudio, de 26 anos, a conseguir um trabalho na Sociedade Hípica
Paulista. A mãe dele, Lisabeth Arruda, fala com emoção sobre a determinação do filho:
"O
sonho de Cláudio sempre foi o hipismo, ele salta. E hoje, depois de muita batalha,
ele conseguiu uma carteira assinada. Então isso para mim foi a maior prova de que
a sociedade mudou. Na adolescência do Cláudio, eu sonhava com que ele trabalhasse,
com que ele tivesse alguma inserção (na sociedade). E eu cheguei a não acreditar que
isso fosse possível. E ele dizia: 'Mamãe, eu vou trabalhar com cavalos'. E eu dizia
a ele que não havia lei de cotas. E hoje ele está lá. Trabalha, com carteira assinada."
Já
para Mariana, de 33 anos, o Dia Mundial da Síndrome de Down traz uma esperança: "Para
a gente poder conviver com as outras pessoas no mundo inteiro. E para a gente poder
se conhecer melhor. Eu sou muito feliz com síndrome de Down." (Onu/RB)