Havana
(RV) – Liberdade: esta é a palavra que melhor resume a etapa cubana desta 23ª
viagem de Bento XVI. Depois de tantas vicissitudes históricas, desde a independência
até a passagem de poder entre os irmãos Castro, esta condição permanece um anseio
para todos os cubanos. Anseio que não passou depercebido pelo Pontífice; pelo contrário,
soube colhê-lo de maneira admirável e o deixou transparecer em cada discurso pronunciado.
Não foi necessário um talento perspicaz para decifrá-lo nas entrelinhas, mas falou
a todos, do mais simples cidadão e ao mais alto dignatário, de modo franco, aberto.
Livre, justamente. Repercorendo as principais etapas desta visita, podemos citar
a Missa celebrada na Praça Antonio Maceo, em Santiago de Cuba, seu primeiro encontro
com os fiéis cubanos. Reconheceu o esforço que fazem para manifestar o verdadeiro
rosto da Igreja como lugar onde Deus se aproxima dos homens e se encontra com eles.
Dirigiu-se de maneira especial às famílias, afirmando que Cuba precisa da capacidade
dos pais de acolher a vida humana. Significativas as palavras pronunciadas no final
da homilia: lutem com as armas, mas com as armas da paz. Todavia, o coração, o
ápice da passagem de Bento XVI pelo país se deu no Santuário da Virgem da Caridade
do Cobre, motivo desta viagem para celebrar os 400 anos do descobrimento da imagem.
Na ocasião, inédita, aos pés de Nossa Senhora, o Papa confiou todos os cubanos, sem
distinção, que são privados da liberdade. De modo especial, pediu pelos afrodescentes,
pelos haitianos, pelos jovens. Poucas palavras, mas exímias e suficientes para expressar
a solidariedade e proximidade do Pontífice para com toda a Ilha. Em Havana não
faltaram momentos emblemáticos, que atraem principalmente a curiosidade dos jornalistas
de plantão. O encontro com o Presidente Raúl Castro, que em todos os momentos parecia
muito satisfeito com a presença do Papa em seu país, tratou de temas como a situação
do povo, as expectativas da Igreja e, não menos importante, temáticas humanitárias.
No final, um pedido: a possibilidade do reconhecimento por parte do governo da Sexta-feira
Santa como feriado – assim como, 14 anos atrás, João Paulo II fez o mesmo pedido em
relação ao dia do Natal, e foi atendido. Enfim, a Missa na Praça da Revolução:
o local do orgulho socialista abriu espaço para revolução que propõe Jesus Cristo. “A
verdade é um anseio do ser humano, e procurá-la supõe sempre um exercício de liberdade
autêntica” disse o Papa diante de 300 mil pessoas. Para difundir a Boa Nova, os fiéis
precisam ser livres. Bento XVI reconheceu os passos feitos na relação entre Igreja
e Estado, mas pede mais, pede que avancem ulteriormente, que seja permitido, por exemplo,
a presença da Igreja em ambientes de formação e nos centros universitários. O encontro
com Fidel Castro não podia faltar. Depois de muitas incertezas e conjecturas, o Papa
e o comandante finalmente estreitaram suas mãos. Temas transcedentais não impediram
as brincadeiras, por exemplo sobre a idade avançada de ambos: “Sou idoso, mas ainda
posso desempenhar minha missão”, disse o Pontífice. A chuva depois acompanhou a
despedida de Bento XVI em terras cubanas. O que fica é a esperança de que a mensagem
do Santo Padre possa ecoar em todos os rincões do país, dos cortiços com os quais
se parecem muitas das habitações remanescentes do período colonial aos imponentes
palácios do governo. Que não somente ecoe, mas responda aos anseios de liberdade. De
Havana para a Rádio Vaticano, Bianca Fraccalvieri