2012-03-27 19:35:24

Papa recorda diáspora africana em Cuba


Santiago de Cuba (RV) – O primeiro compromisso de Bento XVI nesta terça-feira, 27, pode ser definido histórico, pois é a primeira vez que um Pontífice visita o Santuário Nacional da Virgem da Caridade do Cobre, que fica num povoado a cerca de 20 km de Santiago de Cuba.

O Santo Padre chegou de papamóvel diante do ingresso principal e foi acolhido pelo Arcebispo de Santiago e pelo Reitor do Santuário. Sem a presença de fiéis, um coro entoou o Ave Maria, acompanhando a entrada do Pontífice. Ele orou diante do Santíssimo e, a seguir, ajoelhado, diante da imagem da Virgem posicionada perto do Altar. Na saída do Santuário, milhares de fiéis o aguardavam para ouvir sua saudação.

Este local de peregrinação mais venerado de Cuba está intimamente ligado aos acontecimentos sociais e políticos do país. Tudo teve início em 1606, quando três pescadores (dois índios, Juan e Rodrigo de Hoyos, e um escravo negro, Juan Moreno) encontram uma imagem de madeira flutuando nas águas da Baia de Nipe (nordeste do arquipélago), com a escrita "Sou a Virgem da Caridade". A imagem foi levada para uma mina de cobre e neste mesmo local foi construído o primeiro santuário, em 1684. Dezessete anos depois, foi lido no Santuário o "Manifesto pela liberdade dos escravos nas minas de El Cobre". Desde então, alguns dos heróis da independência cubana da Espanha peregrinaram até o local para rezar diante da imagem e pedir a liberdade de Cuba. Ali mesmo, em 1898, foi celebrada a Missa de ação de graças pela libertação da Ilha, na presença de oficiais do exército. Outro momento importante deste local foi quando Paulo VI conferiu ao Santuário o título de Basílica Menor. Deve-se ressaltar que o enviado naquela ocasião foi o então Prefeito da Congregação para os Bispos, o Cardeal africano, de Benin, Bernardin Gantin.

Como o próprio Papa disse em suas palavras de saudação, ele rezou de maneira especial pelos africanos levados como escravos a Cuba. De fato, a sociedade cubana tem um forte componente de afrodescentes, a própria Virgem da Caridade, como Nossa Senhora Aparecida, é negra. A situação aqui é parecida com a de muitos outros países que foram destino da diáspora africana: devem lutar para ter seus direitos plenamente respeitados e sua contribuição em todos os âmbitos (social, político, científico), reconhecida. A chaga do racismo também está presente aqui e a inclusão social é um forte desafio para esta comunidade. Sobre a composição étnica da sociedade cubana e como esta miscigenação influenciou a religiosidade popular, eis o que diz o frade franciscano Fr. Antonio Martins, de Porto Franco, no Maranhão, missionário em Havana:

"A religiosidade do povo cubano é parecida com a do povo brasileiro. Este contexto cultural, composto por negros, brancos e índios, é parecido, então a manifestação desta religiosidade popular é parecida com o Brasil principalmente nos Estados que têm mais expressão deste contexto das três raças, como Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, onde têm mais negros e miscigenação. É muito comum o cubano dizer esta é a sua casa, uma maneira muito acolhedora, muito bonita de dizer ‘você está em sua casa, esta casa é sua’, que revela este mesmo contexto cultural brasileiro e também esta religiosidade." RealAudioMP3

Além dos afrodescentes, o Pontífice rezou pela população do Haiti, pelos prisioneiros e pelos jovens.

Após deixar o Santuário, o Papa foi até o Aeroporto de Santiago rumo à capital, Havana. O grande evento desta tarde é a visita de cortesia ao Presidente do Conselho de Estado, Raúl Castro, no Palácio da Revolução de Havana. Segundo o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, é muito provável que esteja presente também Fidel Castro.

O último compromisso desta terça-feira é o encontro com os Bispos cubanos na sede da Nunciatura Apostólica, em Havana.

De Cuba para a Rádio Vaticano, Bianca Fraccalvieri








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