Santiago de Cuba (RV) – O primeiro compromisso de Bento XVI nesta terça-feira,
27, pode ser definido histórico, pois é a primeira vez que um Pontífice visita o Santuário
Nacional da Virgem da Caridade do Cobre, que fica num povoado a cerca de 20 km de
Santiago de Cuba.
O Santo Padre chegou de papamóvel diante do ingresso principal
e foi acolhido pelo Arcebispo de Santiago e pelo Reitor do Santuário. Sem a presença
de fiéis, um coro entoou o Ave Maria, acompanhando a entrada do Pontífice. Ele orou
diante do Santíssimo e, a seguir, ajoelhado, diante da imagem da Virgem posicionada
perto do Altar. Na saída do Santuário, milhares de fiéis o aguardavam para ouvir sua
saudação.
Este local de peregrinação mais venerado de Cuba está intimamente
ligado aos acontecimentos sociais e políticos do país. Tudo teve início em 1606, quando
três pescadores (dois índios, Juan e Rodrigo de Hoyos, e um escravo negro, Juan Moreno)
encontram uma imagem de madeira flutuando nas águas da Baia de Nipe (nordeste do arquipélago),
com a escrita "Sou a Virgem da Caridade". A imagem foi levada para uma mina de cobre
e neste mesmo local foi construído o primeiro santuário, em 1684. Dezessete anos depois,
foi lido no Santuário o "Manifesto pela liberdade dos escravos nas minas de El Cobre".
Desde então, alguns dos heróis da independência cubana da Espanha peregrinaram até
o local para rezar diante da imagem e pedir a liberdade de Cuba. Ali mesmo, em 1898,
foi celebrada a Missa de ação de graças pela libertação da Ilha, na presença de oficiais
do exército. Outro momento importante deste local foi quando Paulo VI conferiu ao
Santuário o título de Basílica Menor. Deve-se ressaltar que o enviado naquela ocasião
foi o então Prefeito da Congregação para os Bispos, o Cardeal africano, de Benin,
Bernardin Gantin.
Como o próprio Papa disse em suas palavras de saudação, ele
rezou de maneira especial pelos africanos levados como escravos a Cuba. De fato, a
sociedade cubana tem um forte componente de afrodescentes, a própria Virgem da Caridade,
como Nossa Senhora Aparecida, é negra. A situação aqui é parecida com a de muitos
outros países que foram destino da diáspora africana: devem lutar para ter seus direitos
plenamente respeitados e sua contribuição em todos os âmbitos (social, político, científico),
reconhecida. A chaga do racismo também está presente aqui e a inclusão social é um
forte desafio para esta comunidade. Sobre a composição étnica da sociedade cubana
e como esta miscigenação influenciou a religiosidade popular, eis o que diz o frade
franciscano Fr. Antonio Martins, de Porto Franco, no Maranhão, missionário em Havana:
"A
religiosidade do povo cubano é parecida com a do povo brasileiro. Este contexto cultural,
composto por negros, brancos e índios, é parecido, então a manifestação desta religiosidade
popular é parecida com o Brasil principalmente nos Estados que têm mais expressão
deste contexto das três raças, como Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, onde têm mais
negros e miscigenação. É muito comum o cubano dizer esta é a sua casa, uma maneira
muito acolhedora, muito bonita de dizer ‘você está em sua casa, esta casa é sua’,
que revela este mesmo contexto cultural brasileiro e também esta religiosidade."
Além dos
afrodescentes, o Pontífice rezou pela população do Haiti, pelos prisioneiros e pelos
jovens.
Após deixar o Santuário, o Papa foi até o Aeroporto de Santiago rumo
à capital, Havana. O grande evento desta tarde é a visita de cortesia ao Presidente
do Conselho de Estado, Raúl Castro, no Palácio da Revolução de Havana. Segundo o Diretor
da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, é muito provável que esteja
presente também Fidel Castro.
O último compromisso desta terça-feira é o encontro
com os Bispos cubanos na sede da Nunciatura Apostólica, em Havana.
De Cuba
para a Rádio Vaticano, Bianca Fraccalvieri