A aclamação ao Papa e a N. S. da Caridade do Cobre
Santiago
de Cuba (RV) – Uma brisa de esperança volta a soprar em terras cubanas. Quem a
traz, desta vez, é Bento XVI, acolhido com muito respeito pelo povo cubano. A multidão
que o acompanhou no México se repetiu discretamente em Santiago de Cuba, no sul do
país. Além de fiéis católicos, havia também fiéis de outras crenças, ateus, funcionários
públicos, fortemente encorajados pelo governo a seguirem de perto esta passagem do
Pontífice. Passagem esta marcada pela viva lembrança da histórica visita do Beato
João Paulo II, que – disse Bento XVI em sua chegada – deixou uma marca indelével na
alma dos cubanos, uma “espécie de brisa suave que deu novo impulso à Igreja”.
Quatorze
anos depois, os protagonistas daquele encontro mudaram, mas não os anseios do povo
cubano à liberdade e à justiça. Significativa foi a acolhida reservada pelo Presidente
a Bento XVI, com Raúl Castro segurando as mãos do Pontífice. Mantendo o tom revolucionário,
Castro falou das tentativas, de ontem e de hoje, de opressão do seu povo, das boas
relações entre Estado e Igreja, e da crise, ao invés da solidariedade, que se alastra
em muitos países.
Instantes depois, na Praça da Revolução Antonio Maceo, o
Presidente, membros do governo e cerca de 200 mil pessoas aguardavam Bento XVI, para
a celebração da Missa no contexto do Ano Jubilar Mariano. A imagem original de Nossa
Senhora da Caridade do Cobre foi aclamada quando passou por entre os fiéis. O mesmo
entusiasmo foi reservado a Bento XVI, que saudou os presentes do seu papa-móvel. Um
pôr-do-sol imponente, que não anunciava a chuva que acabou por cair, foi a moldura
perfeita para uma celebração marcada por um clima de festa mesclado ao recolhimento
e à reflexão. Destaque para o momento em que o Papa ofereceu a Rosa de Ouro à Virgem.
Em sua homilia, Bento XVI tocou os temas concretos que mais preocupam a sociedade
cubana, da situação dolorosa que muitos sentem, dos novos rumos a serem tomados. Sim,
a luta é necessária, mas com outras armas, as armas da paz.
Esta mensagem
correspondeu às aspirações do povo cubano, como nos diz Ir. Neusa Alves de Brito,
da Congregação das Passionistas de S. Paulo da Cruz. Natural de Borrazópolis, no Paraná,
o sotaque cubano deixa transparecer os 18 anos transcorridos em Cuba:
“Uma
mensagem de esperança, de paz, de possibilidade, palavras que ajudam a diminuir o
que provoca a dor, a falta de esperança, o que às vezes deixa as pessoas, sobretudo
os cubanos mais pobres, sem muitos desejos, sem espírito de luta. Parece contraditório,
porque os cubanos são um povo criativo, inventa muito, busca possibilidades, mas muitas
vezes se encontra hoje numa situação de pouca perspectiva de futuro melhor e penso
que está precisando de uma palavra de alento, de vida”.
Ir. Neusa, a senhora
está aqui há 18 anos, em que Cuba gostaria de viver nos próximos 18 anos?
“Eu
penso que, como todo cubano, numa Cuba livre para expressar o que leva no coração,
apesar de já ter feito um caminho desde a última visita de João Paulo II, o povo cubano
cresceu muito na possibilidade de expressar o que pensa, o que sente sem tanto medo.
E creio que isso é o que ajuda a pessoa a se sentir livre, saber que bem ou mal, errado
ou verdadeiro, pode expressar o que pensa, o que sente”.
Nesta terça, dois
eventos marcam a agenda de Bento XVI: a visita inédita de um Papa ao Santuário da
Virgem da Caridade do Cobre. Depois, percorrerá mais de 700 km para chegar a Havana,
onde, à tarde, haverá a visita de cortesia ao Presidente Raúl Castro. De Cuba para
a Rádio Vaticano, Bianca Fraccalvieri