Bento XVI recorda crianças vítimas da violência, exorta à concórdia e pede colaboração
entre família, Igreja e escola
(25/03/2012) Neste sábado à tarde, segundo dia da viagem ao México, Bento XVI manifestou
a sua solidariedade às crianças vítimas da violência, pedindo à Igreja e à sociedade
do México que construam para elas “um mundo melhor”, dirigindo a palavra aos mais
pequenos,. num encontro na Praça da Paz de Guanajuato, capital do homónimo Estado
mexicano, na região central do país. “Desejo elevar a minha voz, convidando todos
a proteger e cuidar das crianças, para que nunca se apague o seu sorriso, possam viver
em paz e encarara o futuro com confiança” – declarou o Papa, assegurando que os menores
ocupam “um lugar muito importante” no seu coração e lembrou, em particular, as crianças
que “suportam o peso do sofrimento, o abandono, a violência ou a fome, que nestes
meses, por causa da seca, se fez sentir intensamente nalgumas regiões” do México. “Deus
conhece-nos e ama-nos – recordara antes Bentos XVI. Se deixarmos que o amor de Deus
mude o nosso coração, então poderemos transformar o mundo”: recordou-o o Papa às crianças
mexicanas, explicando que se encontra aí “o segredo da autêntica felicidade”. Referindo-se
depois à importância de construir a paz, Bento XVI sublinhou que esta “vem do Alto”,
como ensinou Jesus ressuscitado. Cada um está chamado a tornar-se semeador e mensageiro
daquela paz pela qual Cristo deu a sua vida. “O discípulo de Jesus não responde
ao mal com o mal, mas é sempre instrumento de bem, de perdão, portador de alegria,
servidor da unidade”.
É uma verdadeira missão para todos, também para os
jovens e mesmo para os mais pequenos: “Cada um (de vós) é um dom para o México, para
todo o mundo. A família, a Igreja, a escola – têm, perante a sociedade, a responsabilidade
de colaborar e de ajudar os jovens a orientar-se para um mundo melhor, sem invejas
nem divisões”. Bento XVI convidou as crianças a participarem na missa dominical
e na catequese, antes de recordar o exemplo dos beatos Cristóvão, António e João,
os meninos mártires de Tlaxcala. “Eram crianças como vós, e deles podemos aprender
que, para amar e servir, não há idade”, acrescentou, ladeado por três crianças que
soltaram pombas brancas. Numa intervenção saudada por salvas de palmas e gritos
de entusiasmo dos presentes, o Papa despediu-se com pedidos de oração para que o México
seja “um lar onde todos os seus filhos vivam com serenidade e harmonia”. “Bem gostava
de ficar mais tempo convosco, mas tenho de partir”, concluiu, já depois das 19h30
locais (mais sete na Europa), afirmação que gerou uma reação de entusiasmo. Já
antes da chegada do Papa, e depois, na sua presença, atuou tuado uma orquestra infantil-juvenil
- “Esperança Azteca”, com 80 elementos (entre 6 e 17 anos), que tem como objetivo
integrar os menores, com poucos recursos económicos, em atividades culturais. A orquestra
foi acompanhada por um coro de 220 crianças, que entoou várias músicas tradicionais
para o Papa. O encontro com as crianças aconteceu após a visita do Papa ao presidente
mexicano Felipe Calderón, que se iniciou com 45 minutos de atraso, depois de um percurso
de automóvel de mais de 50 quilómetros, muito aplaudido por milhares de pessoas. No
regresso ao Colégio Miraflores, em León, onde se encontra hospedado até segunda-feira,
Bento XVI recebeu as chaves da cidade das mãos do presidente do município local, Francisco
Ricardo Sheffield Padilla, encerrando assim o segundo dia da visita ao México, que
se prolonga até segunda-feira. Do México, o nosso enviado Raimundo de Lima, ilustra
e comenta os dois momentos do programa de sábado:
… No
primeiro momento, às 18h locais, a visita de cortesia ao presidente mexicano Felipe
Calderón, na sede do governo do Estado de Guanajuato – situada na capital homónima
–, realizada com um colóquio de forma privada, sem discursos; no segundo momento,
sempre na cidade de Guanajuato, um festejado e aguardado encontro com as crianças,
na Praça da Paz.
Ao deixar o Colégio Miraflores de León onde
se encontra hospedado nestes dias de visita ao México, Bento XVI viu repetir-se a
manifestação de carinho e afeto dos mexicanos que, numerosos, vieram de todas as 91
dioceses do país para ver o Papa. De fato, setecentas mil pessoas acolheram-no quando
de sua chegada saindo às ruas de León para dar as boas-vindas àquele que veio como
“peregrino da fé, da esperança e da caridade.
Nas pegadas de
seu predecessor, Bento XVI vem ao México dez anos após a última visita de João Paulo
II, que por cinco vezes esteve neste país do “continente da esperança”. E vem a esta
importante nação da América Latina no momento em que o México e muitos países latino-americanos
celebram seu bicentenário de independência.
Com a visita de
Bento XVI, a Igreja na América Latina recebe um impulso ulterior à Missão Continental,
projeto de animação missionária que, há quase cinco anos, procura colocar a Igreja
no “continente da esperança” em estado permanente de missão. Oriunda da Conferência
de Aparecida – inaugurada por Bento XVI –, a Missão Continental constitui pronta resposta
da Igreja latino-americana ao chamado à Nova Evangelização. Os desafios
não faltam: processo de enfraquecimento da fé, secularização, migração de muitos batizados
rumo a outras comunidades cristãs e seitas e, não por último, a difusão de uma cultura
dominante de matriz relativista e hedonista que atinge também a América Latina. Nesse
contexto, a Igreja é chamada a responder a tais desafios com um exigente e imperioso
convite à conversão, renovação espiritual e santidade de vida, consciente de que a
questão crucial para ela, hoje, reside na fidelidade a seu Senhor. Nesse
sentido, os dois eventos principais desta primeira etapa da viagem de Bento XVI revestem-se
de particular importância: a missa deste domingo, às 10h locais, no Parque do Bicentenário
de León, onde se espera a participação de cerca de 300 mil fiéis; e a celebração das
Vésperas, às 18h, na Catedral de León, na qual o Papa falará, em sua homilia, aos
bispos do México e da América Latina. Em ambos os eventos, espera-se do Pontífice
uma palavra que seja de encorajamento ao “zelo apostólico que atualmente anima e pretende
a missão continental”, de modo que – como afirmara o próprio Papa – “se multipliquem
os autênticos discípulos e missionários do Senhor e se renove a vocação da América
Latina e do Caribe à esperança”. De mente e coração abertos, os
filhos desta terra aguardam as palavras do Sucessor de Pedro: que a sua mensagem nos
anime no seguimento de Cristo e deste solo da América Latina onde há mais de 500 anos
o Evangelho encontrou terra fecunda, possa resplandecer ao mundo inteiro um testemunho
de “fé vigorosa, esperança viva e caridade ardente”. De León, para
a Rádio Vaticano, Raimundo de Lima.