Rio de Janeiro (RV) - Queridos Jovens, É necessário percorrer um caminho
de preparação espiritual e apostólica se realmente desejamos que os frutos da Jornada
Mundial da Juventude Rio 2013 possam amadurecer e transformar as nossas vidas. Devemos
trilhar num itinerário de oração e de trabalho para que as palavras do Santo Padre,
o Papa, e o encontro renovador em Cristo e com os irmãos do mundo inteiro possam dar
frutos de vida eterna. Se não estivermos atentos, poderemos facilmente fazer parte
da multidão que gritava “Hosana” no Domingo de Ramos e “crucifica-o” na Sexta-Feira
Santa. Desejo peregrinar com vocês e, para isso, gostaria de propor uma breve
reflexão sobre o tema da primeira Jornada Mundial da Juventude: "Estejam sempre preparados
para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês" (1Pd
3, 15). Ele foi escolhido pelo Beato João Paulo II em 1986. Quando no dia 23 de
março, no Domingo de Ramos, as dioceses do mundo inteiro realizaram a I Jornada Mundial
da Juventude. Lendo o convite de São Pedro a dar razões de nossa fé, a primeira
coisa em que pensamos é como defender nossa fé contra aqueles que a denigrem. Pensamos
em uma apologética da fé, que consiste apenas em embates e discussões para demonstrar
a verdade. Este tipo de missão é necessário e importante, sem dúvida, mas deve ser
executada por amor às pessoas a quem Deus ama. Porém, muitas vezes nos esquecemos
de que a primeira e fundamental missão e apologética que podemos e devemos realizar
é a do testemunho de nossa fé através do exemplo. Um jovem de verdadeira identidade
católica é aquele que transmite nas pequenas tarefas do dia a dia o sopro da graça
Divina. Um jovem católico é alegre e entusiasta, é capaz de escutar a todos e falar
com vivacidade de Cristo. É aquele que em casa apoia a família, e na escola se esforça
por estudar, respeita os seus professores e é cordial com todos os funcionários da
Escola em que estuda. E se o adolescente pratica algum esporte, é sinal de caridade
e harmonia. Com a namorada ou o namorado coloca todos os meios necessários para viver
com santidade esta etapa importante da vida. É também aquele que consegue ver com
os olhos da fé os problemas sociais, familiares, psicológicos e dificuldades várias
que passa na vida. Não deixemos nos enganar pelo inimigo, porque o demônio nos
ronda e nos tenta. Apologética deve supor a vivência pessoal da fé, senão fica completamente
vazia. Verdade sem caridade transforma-se numa mentira, pois não respeita o outro
enquanto criatura amada e querida por Deus. Cristo nos deu diversas lições sobre isto.
É completamente evangélica a frase: “Rejeitar o pecado, mas não o pecador”. Querendo
arrancar a erva daninha, muitas vezes poderemos arrancar a boa semente. A caridade
sem verdade é falsa. Pois só na verdade existe a real caridade em sentido evangélico
e cristão. Por isso, é importante sair da infantilidade da fé. Isso ocorre quando
cometemos a injustiça de querer enfrentar os questionamentos do mundo tendo a formação
infantil. Daí a importância do Ano da Fé pedido pelo Papa Bento XVI. É triste
perceber que existem excelentes profissionais católicos, com um alto padrão de formação
e especialização que exige seu campo de atuação, mas que possuem um conteúdo catequético
raquítico, desnutrido. É uma tremenda injustiça com a Igreja e com Cristo. Então,
o que fazer? Não podemos ficar com os braços cruzados. É necessário levar a boa nova
de Cristo a todas as criaturas. E não há melhor modo de fazer isto do que através
de gestos de amor, entrega, trabalho e doação. É necessária a inteligência da
fé. A Igreja possui dois mil anos de história e tradição. Carrega um patrimônio humanístico,
cultural, filosófico e teológico únicos. Temos o Catecismo da Igreja Católica e o
Compêndio do Catecismo. Temos os Santos Padres da Igreja. As encíclicas papais, os
documentos dos concílios. É necessário saber dar razões de nossa fé, mas para isto
é necessário estudá-la e aprofundá-la sempre e cada vez mais. Nossa fé não é puro
sentimento ou apenas a invenção de um grupo de homens piedosos. Existe a racionalidade
da fé. E no Catolicismo esta inteligência da fé possui uma densidade tal, que seria
um pecado de omissão não conhecer e estudar. Peguemos as primeiras palavras do
evangelho de São João. O que encontramos lá? “No princípio era o Verbo” (Jo 1,1).
Uma das grandes questões que movia a mente dos filósofos gregos era a que versava
sobre o princípio e fundamento de todas as coisas. Por que as coisas existem? Qual
é o fundamento delas? João apresenta Cristo como o Verbo, o fundamento de todas as
coisas que os gregos durantes séculos buscavam. Cristo é o verdadeiro logos, a razão.
No cristianismo, Cristo é a razão encarnada. São palavras belíssimas do evangelista,
que devem encher nosso coração de alegria e entusiasmo por nossa fé. Ela não é irracional
ou puro sentimento. Ela é sentido e razão de ser de todas as coisas. Não carreguemos
em nossas almas algum sentimento de inferioridade. Não se deixem seduzir por intelectualismos
vazios. Conheçam a fé que professam. Preparem-se bem para a Jornada Rio 2013 através
de uma vida verdadeiramente cristã, que seja sal e luz e possa atrair a todos pela
beleza de seus gestos e palavras. Preparem-se conhecendo mais profundamente a doutrina
e a tradição da Igreja. Sempre há um motivo e uma razão para a Igreja defender certa
posição. Antes de criticá-la, busque conhecer as razões. Devemos viver nossa fé com
todo nosso ser, com nossa alma, com nossa inteligência e com o nosso coração. A Igreja
ofereceu aos jovens o catecismo adaptado à sua linguagem e, em Madri, entregou a todos
os inscritos para a Jornada um exemplar em sua própria língua. Dar razões de nossa
fé é, sobretudo, viver integralmente o cristianismo. Muito me alegram os inúmeros
grupos de jovens que utilizam as redes para a formação cristã. Parabéns pela iniciativa!
E felicito todos os jovens que estão levando a sério a preparação para a Jornada Mundial,
através de encontros de oração, reflexão, partilha e missão. Motivo todos a continuarem
por esse caminho, que só tem a enriquecer a vida de vocês. Que Cristo, o Logos
encarnado, nos ilumine para que possamos no dia a dia de nossa vida dar razões de
nossa esperança. † Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ