Reflexão da subsecretária do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz sobre Dia da
Mulher: no coração da Igreja e do mundo
Cidade do Vaticano (RV) - Celebra-se nesta quinta-feira, com várias iniciativas,
o Dia Internacional da Mulher. E, justamente, a intenção geral de oração do Papa para
o mês de março é dedicada ao reconhecimento da contribuição feminina para a sociedade.
A esse propósito, a Rádio Vaticano entrevistou a subsecretária do Pontifício Conselho
da Justiça e da Paz, Flaminia Giovanelli, que nos falou, dentre outros, sobre os desafios
atuais, em particular para a mulher cristã:
Flaminia Giovanelli:- "Penso
que o que podemos fazer é pedir ao Espírito Santo – que faz novas todas as coisas
– que nos indique novos caminhos a fim de que a contribuição da mulher no social seja
reconhecida. A reivindicação de direitos, o pedido do reconhecimento na sociedade,
são todas coisas justas e imperiosas. Mas, como se sabe, a distância entre o que dizem
as cartas constitucionais e a efetiva aplicação das leis permanece sendo enorme."
RV:
O que a mulher cristã e o seu "gênio feminino" – retomando uma célebre fórmula de
João Paulo II – podem dar à sociedade ocidental, que muitas vezes, hoje, tende a apreciar
as mulheres mais pela imagem do que pela sua identidade?
Flaminia Giovanelli-
"Falando sobre gênio feminino se pressupõe que a mulher tenha uma vocação particular
justamente enquanto mulher. Hoje essa vocação não é dada por certa, aliás, é abertamente
contestada, sobretudo, pela teoria do "gender", ou mesmo colocada em discussão, inclusive
em ambientes cristãos, particularmente se tais ambientes são fortemente feministas.
Creio que justamente por isso a mulher cristã tem um papel de primeiro plano a desempenhar
na solução da questão antropológica, que – como nos recorda o Santo Padre na Caritas
in veritate – é a questão social de hoje. Então creio que a mulher cristã tem a tarefa
de cultivar aquela ecologia humana – que era outra expressão querida de João Paulo
II e que depois foi retomada por Bento XVI –, aquela visão correta da pessoa humana
que é uma integração de corpo, mente e espírito. Portanto, um justo equilíbrio desses
três elementos na pessoa humana numa visão global também da relação homem-mulher.
Ademais, em tempos de crise, a mulher tem um papel particular na humanização da economia,
naquele sentido auspiciado por Bento XVI na Caritas in veritate, ou seja, essa dimensão
da gratuidade e do dom sem a qual – diz o Papa - "nem mesmo o mercado pode funcionar"."
RV:
Falando sobre a contribuição das mulheres pensamos como a mulher está a serviço da
paz, sobretudo no Sul do mundo. A esse propósito, qual a sua reflexão considerando
também a sua experiência no Pontifício Conselho da Justiça e da Paz?
Flaminia
Giovanelli:- "Meu pensamento dirige-se imediatamente ao Prêmio Nobel da Paz 2011
atribuído a três mulheres: duas africanas e uma iemenita. Isso me faz recordar também
Marguerite Barankitse, denominada "O Anjo do Burundi", que assistiu aquele horror
do genocídio, e não somente não buscou a vingança, mas, pelo contrário, buscou a verdade
e o diálogo. Acolheu em suas casas dez mil crianças órfãs de guerra, quer tutsi, quer
hutu. Aquilo que gostaria de ressaltar é essa capacidade das mulheres de acompanhar
a aspiração à paz de modo concreto e com obras concretas." (RL)