Líbia. Cirenaica proclama sua autonomia: Cnt ameaça uso da força
Roma (RV) - A Líbia encontra-se novamente no caos. Milhares de líbios, dentre
os quais representantes das tribos e comandantes das milícias, proclamaram nesta terça-feira,
em Benghazi, a autonomia da Cirenaica, elegeram um congresso regional e ratificaram
a formação de um exército independente.
A reação do Conselho nacional de transição
(Cnt) – órgão que governa o país africano desde a queda do Cel. Muammar Kadafi – não
se fez esperar: O presidente do Cnt Mustafá Abdel Jalil ameaçou recorrer ao uso da
força.
De fato, os esperados frutos oriundos da chamada "Primavera Árabe" (revolta
que no país levou à queda de Kadafi) parecem não vingar. Mas como se chegou a esse
ponto? Foi o que a Rádio Vaticano perguntou ao pesquisador do Instituto para estudos
de política internacional Arturo Varbelli, autor de duas publicações dedicadas ao
país do norte da África:
Arturo Varbelli-: "Chegou-se a esse ponto pelo
fato de a Líbia ser um país desagregado no sentido que quem o governa são diferentes
autoridades. Há uma autoridade central que é deslegitimada, muito fraca e que é constituída
pelo Cnt. Depois existem as milícias e as tribos no tecido social. É muito difícil
entender como essas três entidades de algum modo possam conciliar-se. Vemos nestes
dias que não estão se conciliando e disso nasce o pedido de autonomia federal por
parte da Cirenaica."
RV: Durante os dias de guerra que levaram à queda do
regime de Trípoli a comunidade internacional apressou-se em massa em reconhecer o
Cnt como interlocutor oficial da nova Líbia. O que hoje está acontecendo não é o fruto
de uma jogada de certo modo aventurosa?
Arturo Varbelli:- "Sim,
seguramente é fruto dessa jogada. O Cnt não tem nenhuma legitimidade no país, é percebido
como um órgão que, de certo modo, quase se autoproclamou, enquanto internamente tem-se
a percepção de que essa é a única esperança."
RV: A seu ver, essa ameaça
de usar a força pode concretizar-se?
Arturo Varbelli:- "Penso
que não, e a reação de Abdel Jalil e do Cnt me parece uma reação descomposta. Em primeiro
lugar, o governo central e a autoridade central ainda não têm um exército próprio,
portanto, quem combateria? Alguém na Tripolitania, alguma milícia da Tripolitania?
Voltaríamos a um conflito, à guerra civil que houve – de fato – no ano passado penso
que o Cnt não pode realizar uma ação análoga." (RL)