Mulheres indígenas da América Latina reclamam o direito à terra
Nova Iorque (RV) – As mulheres indígenas trabalham a terra, cuidam
dos animais, semeiam e fazem a colheita, são responsáveis pela comercialização de
seus produtos e, ao mesmo tempo, cuidam e educam seus filhos. Contudo, em muitos países
possuem menos de 2% da terra e enfrentam grandes dificuldades ao tentar obter um título
de propriedade.
Quem afirma é Otília Lux de Cotí, diretora executiva do Fórum
Internacional de Mulheres Indígenas (FIMI), num encontro na sede das Nações Unidas,
esta semana, sobre o direito à terra das mulheres rurais.
Cotí explicou a filosofia
por detrás da relação que a mulher indígena tem com a terra.
“Nós, como povo
indígena, não estamos à margem, estamos sempre articulados com o cosmos, com a Mãe
Natureza. Obviamente, para nós a Terra é a Mãe de onde vem a vida, e por ser doadora
da Vida, devemos protegê-la. Se não fizermos isso, não haverá mais vida”.
Essa
forma de ver a Terra é muito distinta daquela moderna e ocidental que a considera
um “bem de propriedade”. Entretanto, Otília Lux diz que em alguns países da América
Latina já é possível encontrar um equilíbrio entre essas duas visões.
“Na
Bolívia, por exemplo, já existe uma lei que reconhece a “propriedade coletiva” das
terras que pertencem aos povos indígenas. E é nesse ponto que as mulheres indígenas
da Bolívia querem ter reconhecido o direito de serem co-proprietárias da terra. Na
Nicarágua, o Estado também reconheceu a propriedade coletiva – co-propriedade de homens
e mulheres – nas terras do povo Miskito. Esses são grandes avanços para reduzir a
lacuna na questão do acesso e titularidade das terras”.
Estes são dois exemplos
bem sucedidos que podem servir de exemplo para outros países do continente.
“Sou
guatemalteca e no meu país estamos lutando por uma lei que se chama “Desenvolvimento
Rural Integral” na qual pedimos que a mulheres tenham acesso à titularidade da terra
e que seja reconhecido o caráter coletivo das terras indígenas na Guatemala. Elaborar
esta proposta não foi fácil, tivemos muito trabalho mas não foi aprovada. Por isso,
fazemos um apelo aos Estados e aos governos já que o sistema de posse de terra não
é o mesmo levantado em nível oficial porque temos um sistema de co-propriedade. E
neste sistema, o nosso território não se deteriora. Todos têm que tomar decisões.
Todos têm que aprovar ou desaprovar. Se são nossas terras, temos o direito de ser
consultados”.
Cotí solicitou às Nações Unidas que recomendem aos Estados que
contemplem em suas legislações o sistema de posse coletiva dos povos indígenas.