Cidade do Vaticano (RV) - Após dias
consecutivos de graves distúrbios sociais, de violência contínua, de indignação pública,
a tranquilidade ainda não reina num país que luta para não falir: estamos falando
da Grécia. Esta terra provoca em nós uma forte atração, misturada agora à tristeza,
ao ver o berço da filosofia encontrar-se neste momento a ferro e a fogo, quase deixado
ao seu destino. Podemos nos perguntar, mas falar da Grécia, país tão distante do Brasil,
o que pode interessar a nós brasileiiros? Além da simpatia que nutrimos por essa terra
conhecida através dos livros e de suas conquistas filosóficas e artísticas, podemos
ver na situação grega, como um país que se encontra no chamado “primeiro mundo”, pode
também padecer duramente as consequências de escolhas e comportamen tos passados de
dirigentes e políticos.
A sociedade moderna é marcada por inúmeras e novas
particularidades que se refletem diretamente no comportamento e na formação da identidade
e dos valores de todos os seus membros. Portanto, isolar-se desta realidade ou querer
manter-se distante e imune aos seus efeitos é praticamente impossível. Neste mundo
marcado pela cultura do efêmero, do individualismo egocêntrico, da indiferença pelo
sofrimento alheio, devemos preservar valores e conservar a dignidade humana; e isso
constitui um verdadeiro desafio.
Hoje o povo grego sai às ruas contra a corrupção
e a crise econômica. Uma pesquisa de um jornal local, indica que 60% dos entrevistados
considera as manifestações como o resultado de insurreição social geral, rejeitando
as declarações do primeiro ministro, Costas Karamanlis, que afirma que os distúrbios
são causados somente por grupos marginais. A Grécia vive dias de revolta fruto de
medidas de austeridade em vigor e contra o megapacote aprovado no parlamento grego.
Para alguns segmentos políticos “a situação muito difícil vivida hoje pela
grande maioria dos trabalhadores e famílias gregas vai agravar-se de forma insustentável
nos próximos tempos com as medidas agora impostas pela União Europeia, Banco Central
Europeu e FMI”. Os analístas mais críticos afirmam que se trata de uma “situação que
sufoca social e economicamente o povo grego, empurrando para o desemprego, milhares
de trabalhadores.
Por que chegamos a uma situação como essa na Grécia? Certamente
a explicação é longa, mas podemos pensar que a falta de uma ética nas finanças, na
política, no dia a dia das pessoas e a corrupção, são elementos determinantes que
contribuem para que a bola de neve aumente e se transforme numa crise econômica de
dimensões impensáveis.
A Igreja Católica preocupa-se com a nova conjuntura
mundial e suas consequências na vida da população. Como agir então diante dessas novas
realidades? Certamente devemos começar pela nossa casa, pela nossa comunidade, adotando
comportamentos que não marginalizem o nosso próximo, que não o excluam da sociedade,
comportamentos éticos que não firam o bem-comum. Outro caminho a ser percorrido é
o da solidariedade. Como cristãos devemos, se for necessário, ir contra a corrente
para sermos livres. A Grécia nos ensina nestes dias, que a cada dia temos a oportunidade
de ser solidários e de colocar em prática os valores cristãos; a responsabilidade
é de todos. (SP)