Belo Horizonte (RV) - A oração é um exercício fundamental na busca pela qualidade
de vida. Nas indicações que não podem faltar, especialmente para a vida cristã, estão
a prática e o cultivo disciplinado da oração. É um exercício que tem força incomparável
em relação às diversas abordagens de autoajuda, como livros e DVDs, muito comuns na
atualidade.
A crise existencial contemporânea, em particular na cultura ocidental,
precisa redescobrir o caminho da oração para uma vida de qualidade. Equivocado é o
entendimento que pensa a oração como prática exclusiva de devotos. A oração guarda
uma dimensão essencial da vida cristã. Cultivar essa prática é um segredo fundamental
para reconquistar a inteireza da própria vida e fecundar o sentido que a sustenta.
É
muito oportuno incluir entre as diversificadas opiniões, junto aos variados assuntos
discutidos cotidianamente, o que significa e o que se pode alcançar pelo caminho da
oração. Perdê-la como força e não adotá-la como prática diária é abrir mão de uma
alavanca com força para mover mundos. A fé cristã, por meio da teologia, tem por tradição
abordar a importância da oração ao analisar a sua estrutura fundamental, seus elementos
constitutivos, suas formas e os modos de sua experiência. Trata-se de uma importante
ciência e de uma prática rica para fecundar a fé.
A oração tem propriedades
para qualificar a vida pessoal, familiar, social e comunitária. Muitos podem desconhecer,
mas a oração pode ser um laço irrenunciável com o compromisso ético. É prática dos
devotos, mas também um estímulo à cidadania. Ao contrário de ser fuga das dificuldades,
é clarividência e sabedoria, tão necessários no enfrentamento dos problemas. Na verdade,
a oração faz brotar uma fonte interior de decisões, baseadas em valores com força
qualitativa.
A oração como prática e como inquestionável demanda, no entanto,
passa, por razões socioculturais, por uma crise. Aliás, uma crise numa cultura ocidental
que nunca foi radicalmente orante. O secularismo e a mentalidade racionalista se confrontam
com aspectos importantes da vida oracional, como a intercessão e a contemplação. Diante
desse cenário, é importante sublinhar: paga-se um preço muito alto quando se configura
o caminho existencial distante da dimensão transcendente. O distanciamento, o desconhecimento
e a tendência de banir o divino como referencial produzem vazios que atingem frontalmente
a existência.
É longo o caminho para acertar a compreensão e fazer com que
todos percebam o horizonte rico e indispensável da oração. Faz falta a clareza de
que existem situações e problemas que a política, a ciência e a técnica não podem
oferecer soluções, como o sentido da vida e a experiência de uma felicidade duradoura.
A oração é caminho singular. É, pois, indispensável aprender a orar e cultivar a disciplina
diária da oração. Tratar-se de um caminhar em direção às raízes e ao essencial. Nesse
caminho está um remédio indispensável para o mundo atual, que proporciona mais fraternidade
e experiências de solidariedade.
A lógica dominante da sociedade contemporânea
está na contramão dessa busca. Os mecanismos que regem o consumismo e a autossuficiência
humana provocam mortes. Sozinho, o progresso tecnológico, tão necessário e admirável,
produz ambiguidades fatais e inúmeras contradições. Orar desperta uma consciência
própria de autenticidade. Impulsiona à experiência humilde do próprio limite e inspira
a conversão. É recomendação cristã determinante dos rumos da vida e de sua qualidade.
A Igreja Católica tem verdadeiros tesouros, na forma de tratados, de estudos, de reflexões,
e de indicações para o cultivo da oração, que remetem à origem do cristianismo, quando
os próprios discípulos pediram a Jesus: “Ensina-nos a orar”. É uma tarefa missionária
essencial na fé, uma aprendizagem necessária, um cultivo para novas respostas na qualificação
pessoal e do tecido cultural sustentador da vida em sociedade.
Dom Walmor Oliveira
de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte