Nova Evangelização e "Evangelii Nuntiandi": anúncio do Evangelho aos não praticantes
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, voltamos ao nosso encontro semanal reservado à
nova evangelização, questão de primeira importância para a Igreja, chamada a responder
aos inúmeros desafios pastorais que a ela se apresentam no alvorecer deste terceiro
milênio.
De fato, como ressaltamos na edição passada, desafios esses contidos
nos novos cenários: países antes cristãos que hoje parecem ter perdido essa sua profunda
identidade moldada pelo cristianismo. Daí, a necessidade de uma nova evangelização.
Prosseguindo
nossa revisitação à Evangelii Nuntiandi, Exortação Apostólica de 1975, do Papa Paulo
VI, nos ativemos semana passada aos números 51 e 52, este último, que trata do anúncio
ao mundo descristianizado. Anúncio que "se demonstra cada dia mais necessário, e isto
por causa das situações de descristianização frequentes nos nossos dias, igualmente
para multidões de homens que receberam o batismo, mas vivem fora de toda a vida cristã"
– destacamos.
A este propósito, retomemos uma passagem da Exortação Apostólica
Christifideles laici, na qual João Paulo II descreve, justamente, o contexto
em que se faz necessária a nova evangelização como resposta, também, a tais desafios:
34.
"Países inteiros e nações, onde a religião e a vida cristã foram em tempos tão
prósperas e capazes de dar origem a comunidades de fé viva e operosa, encontram-se
hoje sujeitos a dura prova, e, por vezes, até são radicalmente transformados pela
contínua difusão do indiferentismo, do secularismo e do ateísmo. É o caso, em especial,
dos países e das nações do chamado Primeiro Mundo, onde o bem-estar econômico e o
consumismo, embora à mistura com tremendas situações de pobreza e de miséria, inspiram
e permitem viver « como se Deus não existisse ». Ora, a indiferença religiosa e a
total insignificância prática de Deus nos problemas, mesmo graves, da vida não são
menos preocupantes e subversivos do que o ateísmo declarado. E também a fé cristã,
mesmo sobrevivendo em algumas manifestações tradicionais e ritualistas, tende a desaparecer
nos momentos mais significativos da existência, como são os momentos do nascer, do
sofrer e do morrer. Daí que se levantem interrogações e enigmas tremendos, que, ao
ficarem sem resposta, expõem o homem contemporâneo à desilusão desconfortante e à
tentação de eliminar a mesma vida humana que levanta esses problemas. Noutras
regiões ou nações, porém, conservam-se bem vivas ainda tradições de piedade e de religiosidade
popular cristã; mas, esse patrimônio moral e espiritual corre hoje o risco de esbater-se
sob o impacto de múltiplos processos, entre os quais sobressaem a secularização e
a difusão das seitas. Só uma nova evangelização poderá garantir o crescimento de uma
fé límpida e profunda, capaz de converter tais tradições numa força de liberdade autêntica."
E
saltamos para o nº 56 da Evangelii Nuntiandi, na qual o Papa Paulo VI fala, justamente,
da categoria dos não praticantes – categoria esta a ser evangelizada – e do problema
do abandono da prática religiosa:
Não praticantes
56. "Uma segunda
esfera é a dos não praticantes: hoje em dia um bom número de batizados que, em larga
medida, nunca renegaram formalmente o próprio batismo mas que se acham totalmente
à margem do mesmo e que o não vivem. O fenômeno dos não praticantes é muito antigo
na história do cristianismo e anda ligado a uma fraqueza natural, a uma incoerência
profunda que nós, por nosso mal, trazemos no fundo de nós próprios. No entanto, nos
tempos atuais, ele apresenta caraterísticas novas e explica-se freqüentemente pelos
desenraizamentos típicos da nossa época. Ele nasce também do fato de os cristãos hoje
viverem lado a lado com os não-crentes e de receberem constantemente o contra-choque
da incredulidade. Além disso, os não praticantes contemporâneos, mais do que os de
outras épocas, procuram explicar e justificar a própria posição em nome de uma religião
interior, da autonomia ou da autenticidade pessoal (...)."
Abrimos aqui
amigo ouvinte um parêntese para ressaltar que se propõe, neste caso, uma religião
interior, separada de um contexto eclesial. Na realidade – observamos nós –, não há
verdadeira interioridade sem uma exterioridade que manifeste a própria interioridade.
Mas
vejamos como se conclui o nº 56: "Secularismo ateu e ausência de prática religiosa
encontram-se entre os adultos e entre os jovens, nas elites e nas massas, em todos
os setores culturais, no seio das antigas e das jovens Igrejas. A ação evangelizadora
da Igreja, que não pode ignorar estes dois mundos nem ficar parada diante deles, tem
de procurar constantemente os meios e a linguagem adequados para lhes propor a revelação
de Deus e a fé em Jesus Cristo".
Amigo ouvinte, semana que vem tem mais,
se Deus quiser. A você – como sempre – um grande abraço e até lá! (RL)