Paraguai: Igreja pede fim da tensão com os "brasiguaios"
Assunção (RV) - A Conferência Episcopal Paraguaia (CEP) declara-se preocupada
com a situação de tensão, conflito e violência no Alto Paraná, onde O governo paraguaio
iniciou este mês a demarcação de terras no país.
A medida irá atingir diretamente
os brasileiros, chamados brasiguaios, que temem perder a possa das áreas que compraram
e onde investiram durante vários anos. O local do conflito fica na região do estado
de Alto Paraná, a menos de cem quilômetros da fronteira com o Brasil, onde vivem quase
250 mil produtores, a maioria que migrou do Brasil para o país vizinho.
Dias
atrás, houve confronto no município de Santa Rosa del Monday. Imagens feitas pelos
agricultores mostram homens armados com foices e facões cercando carros das famílias
de produtores. Os poucos policiais paraguaios que fazem a segurança da área não conseguem
impedir os manifestantes.
Segunda-feira passada, uma comissão de senadores,
deputados e governadores paraguaios se reuniu com cerca de dois mil produtores brasileiros
em Santa Rosa del Monday. Em Brasília, uma comissão formada por quatro produtores
brasiguaios estive no Senado, no Ministério das Relações Exteriores e na Casa Civil
para pedir a ajuda do governo brasileiro para evitar um conflito maior nas lavouras
em terras paraguaias.
Em nota, os bispos paraguaios afirmam que o problema
da terra e a necessidade de uma Reforma Agrária são antigos no Paraguai e, até o momento,
não há respostas satisfatórias por parte das instituições responsáveis.
A busca
e a edificação do bem comum é responsabilidade de todas as pessoas, afirma a Conferência
Episcopal, porém, é sobretudo competência do Estado, porque o bem comum é a razão
de ser da autoridade política.
"Deus criou a terra e tudo o que nela contém
para o uso de todos os homens deve chegar a todos de forma equitativa. A propriedade
privada não é um direito absoluto. Está subordinada ao uso comum", recordam os bispos,
citando a Doutrina Social da Igreja.
É necessário e urgente que os poderes
públicos assumam sua responsabilidade em ordenar o caos existente sobre a manutenção
e a propriedade da terra no país. A Igreja sugere a elaboração de um cadastro nacional
de terras, que possibilitará uma adequada titulação das propriedades.
Além
disso, os bispos pedem a promoção de uma política de Desenvolvimento Rural Integral,
que requer apoio técnico, creditício, infraestrutura, saúde, educação, fontes de trabalho
e industrialização da agricultura, para possibilitar a fixação das famílias rurais.
"Estamos conscientes de que o problema é complexo e a solução requer a ação
coordenada dos Poderes do Estado para alcançar o bem comum, e construir um Estado
Social de Direito, tal como prescreve a Constituição Nacional. A paz é sempre fruto
do diálogo, da justiça, da equidade e do desenvolvimento integral como oportunidade
para todos os habitantes da nação", conclui a nota da CEP.