Irmandade Muçulmana venceu legislativas no Egipto e vai ocupar metade do novo Parlamento
(22/1/2012) O anúncio dos resultados finais das eleições legislativas egípcias confirmou
o que as sondagens dos partidos já indicavam: ao todo, os partidos islamistas vão
ocupar mais de dois terços dos lugares da nova Assembleia do Povo. Na prática,
não se prevê qualquer coligação entre o Partido Liberdade e Justiça (da Irmandade
Muçulmana) e os salafistas do Nour, pelo que o que importa são os 47% conseguidos
pelos seguidores da Irmandade, que serão 235 dos 508 deputados no Parlamento. O Nour,
criado a meio do ano passado por radicais que até então renegavam a democracia, ficou
em segundo, com 121 lugares e 24% dos votos. Os salafistas, partidários da aplicação
da lei islâmica a todos os campos da vida, desprezam a moderação da Irmandade.
A
Assembleia do Povo tem 508 lugares, mas a votos foram só 498. Os restantes dez estão
reservados para nomeação presidencial. Sem Hosni Mubarak, que caiu em Fevereiro depois
de três semanas de protestos, coube ao líder do Conselho Supremo das Forças Armadas
(CSFA), marechal Hussein Tantawi, a máxima autoridade no país, completar o Parlamento.
Soube-se ontem que cinco dos nomeados pertencem à comunidade copta (10% da população)
e que apenas dois foram entregues a mulheres - esperava-se que Tantawi usasse estas
nomeações para aumentar a presença feminina num Parlamento para onde só foram eleitas
oito candidatas.
Fundada em 1928, e muito influente por causa das redes de
ajuda social que desenvolveu, a Irmandade viveu entre a perseguição e a semiclandestinidade
durante o longo reinado de Mubarak. Tendo-se associado à revolta contra o regime,
a confraria - e o partido que entretanto criou - decidiu nos últimos meses apoiar
a transição liderada pelo Exército e distanciar-se dos grupos que estiveram na vanguarda
da revolta e que continuam na rua, protestando agora contra os militares, que acusam
de manter práticas de repressão e violações de direitos humanos, ao mesmo tempo que
recusam abdicar do poder.
A primeira batalha entre CSFA e Irmandade poderá
ser a da escolha do comité de 100 membros que terá a cargo a redacção da nova Constituição.
O Exército quer escolher grande parte destas pessoas, enquanto a Irmandade exige que
sejam os deputados eleitos a fazê-lo. O facto de a Irmandade e os salafistas terem
mais de dois terços da nova Assembleia deverá complicar ainda mais esta disputa, pois
os militares quererão proteger a Lei Fundamental da influência islamista. A primeira
sessão parlamentar deverá realizar-se na próxima segunda-feira e a eleição dos senadores
começa a 29 de janeiro. O futuro Parlamento vai designar uma comissão para redigir
uma nova Constituição. As eleições presidenciais estão previstas antes do final
de junho e a apresentação de candidaturas começa a 15 de abril.