2012-01-17 12:23:48

Giglio: em que condições trabalham os marítimos? Ouça entrevista


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Cidade do Vaticano (RV) - O que aconteceu na ponte de comando do Costa Concordia entre o momento que o navio colidiu em rochas a cerca de 300 metros da ilha de Giglio e o soar do sinal do alarme de abandonar o navio? Esta pergunta, e muitas outras, ainda não têm respostas.

Sabe-se que o navio se aproximou perigosamente de Giglio para saudar os habitantes da ilha - e que isto era como uma “tradição” - só que nunca tão próximo como na sexta-feira, e principalmente, nunca o fez tão perto dos perigosos rochedos Le Scole.

E após a colisão? Muitos passageiros e tripulantes do Costa Concordia relataram a evacuação do navio, o pânico, o medo, as atribulações e os momentos dramáticos que viveram.

E na ponte do comando? O que é que aconteceu durante esse tempo? Onde estavam os oficiais do Costa Concordia? Por que os tripulantes não foram imediatamente avisados da gravidade da situação e instruídos para prepararem a evacuação do navio? Por que se demorou tanto tempo para acionar os barcos salva-vidas, ao ponto de quando começaram não conseguirem porque o navio estava inclinado?

Muitos também reclamam que estavam de coletes vestidos no deck de acesso aos botes, mas que os tripulantes ficavam parados, aguardando ordens. Enquanto isso, o Costa Concordia continuava a se inclinar e vários passageiros e tripulantes se jogavam ao mar para tentar chegar à terra nadando.

Enquanto alguns elogiam a bravura dos tripulantes do Costa Concordia nos momentos difíceis, a tardia evacuação do navio pode ter feito a diferença entre a vida e a morte para alguns dos passageiros.

Nosso aprofundamento desta terça quer focar a questão da segurança dos passageiros e da tripulação das embarcações que cruzam diariamente nossos mares e oceanos. Para isso, contatamos quem está próximo dos marítimos: Pe. Samuel Fonseca é o coordenador do Apostolado do Mar para a América Latina e o Caribe.

“Quem está de perto e acompanha este tipo de situação sabe que existem naufrágios quase todos os dias. Quem acompanha a situação dos marítimos ou até quem mora nas proximidades de portos ou do mar normalmente vê grandes transatlânticos e cargueiros passarem todos os dias, mas de fora. Veem praticamente os navios que vão e vêm e esquecem que dentro destes navios trabalha um bom número de pessoas, como no caso do Costa, em que havia 1.100 tripulantes. Eu acompanho este tipo de pessoas há 12 anos e o que encontramos a bordo destes navios? Pessoas que trabalham com horários cansativos, tripulações mistas, isto é, pessoas de diferentes países, que falam diferentes línguas, com diferentes religiões... Às vezes, a diferença linguística faz com que a pessoa não se comunique, viva mais isolada uma da outra, fazendo com que de fato carregue em si estresse, cansaço, fatiga, falta da família, falta de tudo, praticamente”.

“Nós enfrentamos este mundo, quem está de perto obviamente entende. Por exemplo, os tripulantes de transatlânticos trabalham alguns dias 16, 18, 20 horas corridas. Pode-se imaginar como alguém possa produzir, dar segurança, se manter acordada, estar bem para produzir bem e oferecer segurança aos navios e aos passageiros. Vejo que é bastante difícil. Pude acompanhar pequenos naufrágios, pequenos incidentes a bordo, e na maioria das vezes eles foram causados por excesso de trabalho, de cansaço, dias longos, muitas horas de trabalho, pouco descanso. As pessoas ficam sem dormir, e estes são motivos pelos quais acontecem estes incidentes”.

“O Apostolado do Mar procura alertar os tripulantes, mas por outro lado, estão as grandes empresas que não querem perder tempo, querem que as pessoas trabalhem mais, produzam mais e esquecem este outro lado: a segurança, o lado humano, espiritual, de que as pessoas precisam para produzir bem estar bem descansadas, bem alimentadas. Os tripulantes precisam ter contato entre eles mesmos, ter contato com suas famílias, e isto é o que falta a bordo destes navios e transatlânticos".

Ouça a entrevista clicando acima
(CM)







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