Rio de Janeiro (RV) - Enquanto vivemos em nossa Arquidiocese a trezena de São
Sebastião, nosso padroeiro, e depois de celebrarmos as festas do Natal do Senhor,
a Solenidade da Sagrada Família, a Festa de Santa Maria, Mãe de Deus, nossa Mãe e
Mãe da Igreja, com o dia mundial de orações pela paz, a Solenidade da Epifania do
Senhor e a Festa do Batismo do Senhor, entramos no tempo chamado Comum, ou seja, a
caminhada da Igreja na história, vivenciados os mistérios da encarnação e da redenção.
No Evangelho deste Segundo Domingo do Tempo Comum continua a série de epifanias, ou
seja, as manifestações de Jesus: depois da estrela dos Magos, do sinal nas Bodas de
Caná e do batismo no rio Jordão, é João Batista que ressalta, insistentemente, a presença
de Jesus como "o Cordeiro de Deus" (v. 36). João Batista fixa seus olhos em Jesus
(v. 36) e proclama-o "Cordeiro de Deus". Esta é uma identidade carregada de significado
que lembra: a noite do cordeiro pascal do Êxodo (Êxodo 12,13), o Servo do Senhor,
sacrificado como um cordeiro levado ao matadouro (Is 53,7.12), o cordeiro sacrificado,
substituído, associado com o sacrifício de Abraão (Gênesis 22). Além da identidade
do Cordeiro, a passagem do Evangelho de hoje apresenta outros títulos de Jesus: Rabi
(mestre), quando os dois discípulos, André e João, desejam conhecer para entender
quem Ele realmente é. Jesus convidou-os a ir e estar com ele: "Vinde e vede" (v. 39).
Esse encontro tem efeitos explosivos e contagiantes em cadeia: André traz seu irmão,
Simão, a Jesus (v. 41-42); depois do seu encontro também Filipe fala com seu amigo
Natanael (v. 45ss.) etc. Emergem também como outros títulos de Jesus: Messias, Cristo
(v. 41), anunciado pelos profetas, o Filho de Deus, rei de Israel (ver 45.49). Encontrando
Simão, Jesus fixa seu olhar sobre ele (v. 42), olha para o coração, e muda o seu nome:
"Você vai ser chamado de Pedro". Dá-lhe uma nova identidade, define sua missão. Como
se pode perceber, os textos deste domingo têm um claro conteúdo vocacional, começando
com a vocação-missão do jovem Samuel (primeira leitura – 1Sm 3,3b-10.19), incluindo
o forte apelo de Paulo aos Coríntios (segunda leitura – 1Cor 6,13c-15a.17-20) para
viverem de forma coerente às suas dignidades de membros de Cristo (v. 15), de templo
do Espírito (v. 19), de pessoas compradas por preço alto (v. 20). Toda a liturgia
está imbuída, desde a oração da coleta, do sentido da escuta, onde pedimos a Deus
a mesma capacidade de Samuel, para não deixar cair nenhuma das suas palavras no vazio;
a segunda leitura, que embora não fale diretamente de ouvir, possui, contudo, um convite
para agir, o que talvez não seja fácil, ouvindo atentamente o nosso corpo, como escreve
São Paulo aos Coríntios, que é um templo do Espírito Santo. Este domingo fala de
chamado, de vocação e, consequentemente da missão. Os textos litúrgicos dão algumas
direções para o discernimento da vocação e da formação: Deus continua a chamar, em
qualquer época, mesmo naquelas de grandes dificuldades, como nos dias de Samuel. -
Deus chama pelo nome (ver Samuel, Pedro e muitos outros casos: Is 49,1; Ez 33,12;
Evangelhos). É essencial permanecer-habitar (estar) com o Senhor para compreender
a sua identidade. Jesus convida: "Vinde e vede"! Foram, viram e permaneceram com Ele
(v. 39). Precisamos de pessoas que sejam capazes de ajudar a descobrir a voz de
Deus, como Eli, o sacerdote fez com Samuel (1Sm 3, 8-9), o Batista com os dois discípulos
(Jo 1, 35-37), Ananias com Paulo (At 9, 17). A chamada não é uma recompensa por lealdade
ou obras humanas, mas sempre e somente uma eleição gratuita da parte de Deus. A resposta
ao chamado vive-se na alegre fidelidade ao projeto de Deus, e também tem como resultado
a plena realização de si mesmo, que é concretizada no serviço da missão confiada a
nós. A Igreja continua a apontar para Jesus com as mesmas palavras de João Batista.
Faz isso na celebração da Eucaristia-comunhão: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o
pecado..."; e o faz também no anúncio e no serviço próprio da missão. A mensagem missionária
da Igreja será sempre mais eficaz e credível, quanto mais for – como em João Batista
– fruto da liberdade, da austeridade, da coragem, da profecia, da expressão de uma
Igreja serva do Reino. Somente desta forma, como foi para João Batista, a palavra
do missionário terá um efeito de contágio vocacional, será origem de novos discípulos
de Jesus (v. 37). † Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ