Cidade do Vaticano (RV) – Na última
segunda-feira o Papa Bento XVI recebeu na Sala Regia, no Vaticano o corpo diplomático
acreditado junto à Santa Sé, para as felicitações de Ano Novo. Esse já é um encontro
tradicional no início de cada ano durante o qual o Papa faz uma síntese e análise
dos principais fatos no cenário internacional do ano que passou. E dessa análise permeada
com reflexões, externações e apelos o Santo Padre aproveitanto a presença de 178 embaixadores
que representam as nações com as quais a Santa Sé mantém relações diplomáticas - entre
elas o Brasil, representado pelo Embaixador Almir Franco de Sá Barbuda – dirige o
seu pensamento a todos os governos e povos da terra.
Este ano como nos antecedentes
Bento XVI centralizou a sua atenção no homem, no ser humano que muitas vezes vê seus
direitos e anseios pisoteados pelo egoísmo, indiferença e cobiça do seu semelhante.
O
Papa traçou um panorama do momento atual, marcado por um "profundo mal-estar e por
diversas crises: econômicas, políticas e sociais". Crises que não atingiram somente
as famílias e as empresas, mas principalmente os jovens. E citou as regiões do mundo
em que eles foram os protagonistas. O olhar do Papa aos jovens, como sempre é um olhar
de confiança e esperança.
“O Beato João Paulo II lembrava que «o caminho da
paz é também o caminho dos jovens», - recordou Bento XVI - constituindo eles «a juventude
das nações e das sociedades, a juventude de todas as famílias e da humanidade inteira».
Por isso, os jovens pressionam-nos para que sejam consideradas seriamente as suas
exigências de verdade, justiça e paz”.
Preocupado com o fato de serem os jovens
os mais afetados pelos efeitos da incerteza do momento atual, com o desemprego e a
falta de perspetivas para o futuro, o Santo Padre mencionou expressamente a África
do Norte e o Oriente Médio, onde os jovens lançaram “aquilo que se tornou num amplo
movimento de revindicação de reformas e de participação mais ativa na vida política
e social”.
Embora reconhecendo a dificuldade de estabelecer já um balanço
definitivo destes acontecimentos e suas consequências, o Papa exprimiu ainda assim
um seu parecer: “O otimismo inicial deu lugar ao reconhecimento das dificuldades deste
momento de transição e mudança. Parece evidente que a via adequada para continuar
o caminho empreendido passa pelo reconhecimento da dignidade inalienável de cada pessoa
humana e dos seus direitos fundamentais”. São os jovens, segundo Bento XVI, a base
sobre a qual investir para reverter a situação atual. Isso só poderá ser feito através
da educação, que constitui a tarefa de primária importância num tempo difícil e delicado.
O Santo Padre citou ainda a questão da liberdade religiosa e do uso da religião
para subjugar o próximo. “O terrorismo religiosamente motivado ceifou, no ano passado,
também numerosas vítimas, sobretudo na Ásia e na África”. Por esta razão,o Papa voltou
a repetir o que já tinha dito em Assis, que esta não é a verdadeira natureza da religião.
Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. A religião não
pode ser usada como pretexto para pôr de lado as regras da justiça e do direito em
favor do «bem» que ela persegue.
“Realismo e esperança” são as palavras que
melhor definem o discurso do Papa ao corpo diplomático: A opinião é do diretor do
jornal L’Osservatore romano, Giovanni Maria Vian, segundo o qual “ao observar o panorama
mundial – onde o homem não reconhece mais a própria relação com o Criador – e as repercussões
graves e preocupantes da crise, o Papa conseguiu unir ao realismo a esperança”.
Animada
pela certeza da fé, a Santa Sé continua a dar à Comunidade internacional a sua contribuição,
guiada por um duplo intento que o Concílio Vaticano II definiu claramente – finalizou
Betno XVI: “proclamar a sublime vocação do homem e a presença nele de um germe divino,
e oferecer à humanidade uma cooperação sincera a fim de instaurar a fraternidade universal
que a esta vocação corresponde”. (Silvonei José)