2012-01-09 19:46:56

Síria, o testemunho de um monge: ficar em meio a dificuldades ou fugir das violências


Damasco (RV) - A repressão anti-regime não dá sinal de arrefecimento na Síria, que – segundo estimativas da ONU – já fez cinco mil vítimas. No campo diplomático, a liga árabe pediu ao governo e oposição que coloquem fim às violências, ao tempo em que a missão de observadores da organização pan-árabe será prorrogada e reforçada, sem recorrer à ajuda da ONU.

A vida dos civis na Síria prossegue entre muitos sofrimentos e, dentre eles encontram-se os cristãos sob forte pressão em toda a área dos países árabes, abalados por grandes agitações sociais.

O fundador da Comunidade monástica de Deir Mar Musa al-Habachi, próximo a Nabak, Pe. Paolo dall'Oglio, promotor do diálogo entre cristãos e muçulmanos – há meses empenhado nos esforços de reconciliação interna –, nos oferece seu testemunho particular. Entrevistado pela colega do "Programa Alemão" Anne Kathrin Preckel, eis o que disse:

Pe. Paolo dall'Oglio:- "A vida de fé é intensa, se reza muito na Síria neste momento. Diria, não somente na Síria. Vimos também cristãos iraquianos, quanta fé souberam expressar na terrível crise que os atingiu durante tantos anos, e os cristãos egípcios, que se encontram num momento de grande importância. Também os cristãos jordanianos acompanham o movimento de renovação da sociedade com forte entusiasmo evangélico. Junto a esses sentimentos, muitos cristãos sofrem grande medo pelo futuro: têm medo de que o emergir dos movimentos islâmicos produza uma volta ao passado, levando todos a uma condição de submissão, de minoria, de minoria moral, civil e que se torne impossível viver como cristãos cidadãos nesses países. Este medo, porém, torna estéril o empenho cristão nesses países. Superar o medo é, certamente, o convite que buscamos dirigir aos cristãos do Oriente Médio, aos cristãos dos países que estão passando por essa situação, para que possam participar com coragem e simplicidade. Nós temos a vocação de ser fermento na massa, não podemos permanecer à margem. Certamente, existirão dificuldades que terão de ser superadas. Creio que aqueles que Jesus envia como pombas, como cordeiros e como sábios podem atuar com a regra da humildade. Penso em Francisco e em seus frades: não para serem submissos, inativos e ignorantes. Os cristãos do Oriente Médio aceitam ver seus concidadãos muçulmanos livres, responsáveis e repletos do peso da responsabilidade democrática, e isso tem um preço em relação a uma liberdade de movimento que os cristãos tinham antes, mas é por esse caminho que os cristãos podem levar o seu fermento a essa massa."

RV: O senhor citou várias vezes o Iraque, onde o êxodo de cristãos é muito forte. Nesse sentido, como está a situação na Síria? O senhor compreende os cristãos que neste momento deixam o país?

Pe. Paolo dall'Oglio:- "Certamente, compreendo perfeitamente, porque quando falta a segurança sem teme pelos próprios filhos. Quando um pai de família deve ir trabalhar e tem medo de não poder voltar – sobretudo se há uma parte da família que já se encontra no exterior e pede que também eles deixem o país – isso cria as condições para um aumento muito forte da emigração, que é um desastre para a Igreja, mas, humanamente, se pode entender muito bem. De fato, hoje as pessoas no mundo se deslocam com facilidade. Quando as coisas melhorarem retornarão. E se elas não voltarem, outras voltarão. Nisso é preciso ser um pouco humildes. As razões de uma família para ir embora não são facilmente as razões gerais de uma Igreja para encorajá-la a ficar. Encorajamos a ficar: alguns muito corajosos ficam por motivos espirituais, outros sentem o dever de proteger os seus filhos." (RL)







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