Lideranças denunciam assassinato de criança Awá-Guajá no Maranhão
Brasília (RV) - Lideranças indígenas do povo Guajajara (ou Tenetehara) da aldeia
Zutiwa, Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, denunciam o assassinato de uma criança
Awá-Guajá que pertencia a um grupo em situação de isolamento.
O corpo foi
encontrado carbonizado em outubro do ano passado num acampamento abandonado pelos
Awá isolados, a cerca de 20 quilômetros da aldeia Patizal do povo Tenetehara, região
localizada no município de Arame (MA). A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi informada
do episódio em novembro e nenhuma investigação do caso está em curso.
As suspeitas
dão conta de que um ataque tenha ocorrido entre setembro e outubro contra o acampamento
dos indígenas isolados. Clovis Tenetehara costumava ver os Awá-Guajá isolados durante
caçadas na mata. No entanto, deixou de encontrá-los logo que localizou um acampamento
com sinais de incêndio e os restos mortais de uma criança.
“Depois disso
não foi mais visto o grupo isolado. Nesse período os madeireiros estavam lá. Eram
muitos. Agora desapareceram. Não foram mais lá. Até para nós é perigoso andar, imagine
para os isolados”, diz Luís Carlos Tenetehara, da aldeia Patizal. Os indígenas acreditam
que o grupo isolado tenha se dispersado para outros pontos da Terra Indígena Araribóia
temendo novos ataques.
Conforme relatam os Tenetehara, nos últimos anos a
ação de madeireiros na região tem feito com que os Awá isolados migrem do centro do
território indígena para suas periferias, ficando cada vez mais expostos aos contatos
violentos com a sociedade envolvente. Além disso, a floresta tem sido devastada pela
retirada da madeira também colocando em risco a subsistência do grupo, essencialmente
coletor.
Estima-se que existam três grupos isolados na Terra Indígena Araribóia,
num total de 60 indígenas. Os Tenetehara conservam relação amistosa e afastada com
os isolados, pois dividem o mesmo território.
Denúncias antigas
“A situação é denunciada há muito tempo. Tem se tornado frequente a presença desses
grupos de madeireiros colocando em risco os indígenas isolados. Nenhuma medida concreta
foi tomada para proteger esses povos”, diz Rosimeire Diniz, coordenadora do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) no Maranhão.
Para a missionária, confirmar
a presença de isolados implica na tomada de medidas de proteção por parte das autoridades
competentes. Rosimeire aponta a situação como de extrema gravidade e que não é possível
continuar assistindo situações de violência relatadas por indígenas.
Durante
o ano passado, indígenas Awá-Guajá foram atacados por madeireiros enquanto retiravam
mel dentro da terra indígena e os Tenetehara relatam a presença constante dos madeireiros,
além de ameaças e ataques. “Não andamos livremente na mata que é nossa porque eles
estão lá, retirando madeira e nos ameaçando”, encerra Luiz Carlos. (Cimi/RB)