2012-01-02 13:24:10

A mulher africana: mãe e “promotora da paz”


*Cidade do Vaticano (RV) – Em 1º de janeiro a Igreja celebrou a Solenidade de Maria, Mãe de Deus, e a Jornada Mundial da Paz. Este ano, ambas comemorações, tiveram um significado particular para as mulheres africanas.

Elas protagonizam o duplo papel de “mães”, papel este sempre a elas atribuído, e de “artesãs da paz”, imagem que recentemente encontrou confirmação oficial na percepção comum da realidade local e, em nível internacional, com a concessão do prêmio Nobel da Paz para três mulheres.
No passado, a contribuição feminina no processo de estabilização dos países em conflito foi muitas vezes subestimado, por causa do preconceito que leva a associar às questões ligadas às guerras aos homens.

Na maior parte dos casos, ao contrário, as mulheres foram vistas como “vítimas passivas” da violência. Os esforços delas para fazer prevalecer o diálogo sobre as armas por muito tempo ficaram à margem, sem apoio ou recompensa, enquanto o talento e a sensibilidade humana das mulheres agora emergem em todas as dimensões da vida da sociedade. Da família à sensibilidade intuitiva, até as expressões mais visíveis do “gênio” feminino, o papel das mulheres é indispensável para realizar os passos decisivos para a paz em dimensão local, nacional e internacional.

“Com este Prêmio Nobel 2011, o papel das mulheres nos processos de pacificação na África e no mundo foi finalmente reconhecido. Não seremos mais excluídas”, disseram as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee, e a iemenita Tawwakkol Karman, ao dedicar o prêmio às mulheres do mundo inteiro: às mulheres que suportaram o peso das guerras, vítimas de violências, de escravidão sexual, às mães que sozinhas criaram os filhos quando, muitas vezes, os maridos eram obrigados a ir à guerra. “As mulheres não serão mais classificadas como simples vítimas de um conflito, mas como personagens decisivas no processo de resolução dos conflitos”.

Com outras duas ações – a entrega do “Right Livelihood Award” (ou Nobel alternativo) à jurista chadiana Jacqueline Moudeina, e da indicação da gambiana Fatou Bensouda para ocupar o posto de Procuradora Geral na Corte Penal Internacional – a Comunidade Internacional demonstrou oficialmente que na África as mulheres são instrumentos concretos da criação do consenso. O dever que a sociedade repassou a elas e suas diferentes experiências ao longo dos anos reforçaram a capacidade das mulheres de negociar.

As mulheres se preocupam com a comunidade, demonstrando os valores da solidariedade e da abertura ao diálogo, e são ativas em diversas realidades, da saúde à educação até a alimentação. As mulheres tomam conta do ser humano, sobretudo como mães. Se ocupam das crianças, ajudando-as a crescer, dos afazeres domésticos e da família.

“A luta não violenta delas em favor da segurança e do direito pleno, para as mulheres, de participar no processo de paz; o compromisso silencioso e discreto na busca e na construção da paz”: estas foram as motivações que basearam a escolha de conferir-lhes o Nobel, em Oslo, para o ano de 2011.

A primeira mulher africana a ter recebido um Prêmio Nobel, a queniana Wangari Mathaii, morreu no último mês de outubro em um clima de discrição geral. Havia guiado o importante projeto de reflorestamento da África – o Movimento do cinturão verde. Superou obstáculos e foi presa diversas vezes por ter defendido, também em outros contextos mas sempre com ardor, os direitos humanos.

Leymah Gbowee é uma militante pacifista; contribuiu concretamente para colocar fim à guerra civil que dilacerou a Libéria até 2003. Seu comprometimento em favor do movimento não-violento lhe rendeu o codinome “guerreira da paz” no cenário internacional. A gambiana Fatou Bensouda desenvolveu o papel de Conselheiro Jurídico e Substituto do Procurador no Tribunal Penal Internacional para Ruanda. Jaqueline Moudeina, advogada, defendeu as vítimas da violência política perpretada pelo ex-presidente do Chade, Hissène Habré, assumindo uma postura explicitamente anti-governo, contra os seus cúmplices, e expondo-se em primeira linha a riscos enormes.

É realmente necessário investir majoritariamente em favor às mulheres: este é o ensinamento essencial que se pode trazer dos esforços realizados por estas mulheres exemplares. Existem na África cooperativas femininas comprometidas no campo da agricultura, do coméricio, da educação, na transformação dos produtos alimentares e pioneiras na prática do micro-crédito.

Graças ao instinto materno às mulheres lutam continuamente, e com sucesso, para a defesa da vida. Também a educação para a saúde em inúmeras vilas hoje é administrada por mulheres, e são sobretudo elas a guiar os movimentos para a mudança de práticas tradicionais que lesam os direitos humanos. Milhares de organizações femininas estão comprometidas na política, nas questões sociais, e trabalham todos os dias para tecer sólidos laços de confiança, nas situações de pós-conflito.

Naturalmente, também a Igreja faz a sua parte, especialmente por meio dos Movimentos de Ação católica. A Exortação Apostólica pós-Sinodal, Africae Munus, traz um reconhecimento explícito à contribuição indispensável e ao talento insubstituível das mulheres no âmbito familiar, na sociedade e na comunidade eclesial. Os bispos do continente estão convidados a encorajar a formação das mulheres, para que elas possam participar com responsabilidade à vida comunitária, na vida civil e na Igreja, contribuindo de tal modo para a “humanização” global da sociedade.

*Marie José Muando Buabualo, programa francês para a África, RV








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