2012-01-02 13:43:10

A mulher africana: mãe e “artífice da paz”


A Igreja celebra no dia 1 de Janeiro a Solenidade de Maria, Mãe de Deus, e o Dia Mundial da Paz. Este ano as duas comemorações assumem para as mulheres africanas um significado particular, pois as africanas desempenham o duplo papel de “mãe”, desde sempre reconhecido, e de “artesãs da paz”, título que só recentemente lhes foi reconhecido de forma oficial, tanto a nível local como internacional, chegando-se mesmo a atribuir o Prémio Nobel da Paz a três mulheres africanas.
O contributo das mulheres nos processos de paz nos países em conflito foi, no passado, negligenciado devido a preconceitos que levam a associar as questões ligadas à guerra aos homens. As mulheres são, na maior parte dos casos, associadas à imagem de “vítimas passivas” da violência. Os seus esforços para fazer prevalecer o diálogo foram raramente postos em evidência não sendo, por conseguinte, apoiados ou recompensados. Mas, o talento e a sensibilidade humana da mulher estão a emergir cada vez mais em todas as dimensões da vida social. Desde a família, à sua sensibilidade intuitiva, até às expressões mais visíveis do “génio feminino”… o papel da mulher tornou-se indispensável a fim de dar passos decisivos a favor da paz no mundo.

“Com o prémio Nobel 2011, o papel das mulheres nos processos de pacificação em África e no mundo foi finalmente reconhecido. Já não seremos excluídas”, disseram as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee, assim como a iemenita Tawwakkol Kaman, ao dedicar às mulheres do mundo inteiro o Prémio Nobel da Paz que receberam: às mulheres que passaram pelo peso da guerra, vítimas da violência da escravatura sexual, às mães que tiveram de crescer sozinhas os filhos quando, muitas vezes, os maridos eram obrigados a ir para a guerra. “As mulheres já não serão classificadas como simples vítimas de um conflito, mas como actrizes decisivas no processo de resolução do mesmo”.

Com duas ulteriores acções – a atribuição do “Right Livelihood Awar” (O Nobel alternativo) à jurista chadiana Jacqueline Moudeina, e do cargo de Procurador Geral do Tribunal Penal Internacional à gambiana Fatou Bensouda – a comunidade internacional demonstra ter tomado oficialmente nota de que em África as mulheres participam de forma concreta na criação de consenso. A tarefa que a sociedade lhes atribui e as diversas experiências amadurecidas ao longo de anos reforçam a sua capacidade de negociação.
As mulheres preocupam-se com a comunidade, exprimindo valores da solidariedade e propensão à escuta, e estão activas em diversos contextos, desde a saúde à educação, à alimentação. As mulheres cuidam do ser humanos, antes de mais no seu papel de mãe, ajudando os filhos a crescer, tomando conta do lar e da família.
“A sua luta não violenta a favor da segurança e do respeito dos direitos humanos; a favor das mulheres; o empenho silencioso e discreto na procura e na construção da paz”: estas as motivações da atribuição do Prémio Nobel da Paz 2011 a duas mulheres africanas, assim como a uma iemenita…
No entanto, a primeira mulher da África a receber um Prémio Nobe da Paz, foi a queniana Wangari Mathaii. Faleceu em Outubro passado. Tinha ideado e posto em prática o projecto de arborização da África designado “Cintura Verde” e sofreu vários atropelos na sua fervorosa luta em favor dos direitos humanos, tendo estado mesmo várias vezes na prisão.
Leymah Gbowee é uma militante pacifista. Contribuiu para o fim da guerra civil que ensanguentou a Libera ao longo de vários anos e que se concluiu em 2003. O seu empenho a favor da não violência valeu-lhe, no cenário internacional, a alcunha de “guerreira da paz”.
A gambiana Fatou Bensouda desempenhou o cargo de Conselheira Jurídica e de Vice-Procuradora junto do Tribunal Penal Internacional para o Ruanda, enquanto que Jacqueline Moudeina, advogada, defendeu as vítimas da violência política levada a cabo pelo ex-presidente chadiano, Hissène Habré. Assumiu posições explicitas contra o governo e os seus cúmplices, exponde-se, deste modo, a enormes riscos.

É realmente necessário investir mais a favor das mulheres: esta a lição primordial que se pode tirar dos esforços levados a cabo por mulheres exemplares. Existem em África cooperativas femininas empenhadas no campo da agricultura, do comercio, da educação, na transformação de produtos alimentares e que abrem caminho à prática do micro-crédito.

Graças ao seu instinto materno, as mulheres lutam continuamente, e com sucesso, a favor da vida. Mesmo a educação à saúde em muitas aldeias é hoje gerida pelas mulheres, e são sobretudo elas que guiam os movimentos para a mudança de determinadas práticas tradicionais contrárias aos direitos humanos. Milhares de organizações femininas estão empenhadas na política, nas questões sociais, e trabalham quotidianamente no estabelecimento de relações de confiança nas situações pós-conflito.

É claro que também a Igreja faz a sua parte, sobretudo através dos Movimentos de Acção Católica. Na Exortação Apostólica pós-sinodal “Africae Munus” encontra-se uma referência explicita ao contributo indispensável e ao talento insubstituível das mulheres no lar, na sociedade e na comunidade eclesial. Os bispos do continente são convidados a encorajar a formação das mulheres a fim de que elas possam participar com responsabilidade na vida comunitária, na vida civil e na Igreja, contribuindo deste modo para a “humanização” da sociedade no seu conjunto.

Por Marie-José Muando Buabualo, Programa Francês/África








All the contents on this site are copyrighted ©.