Reavivar uma fé que instaure um novo humanismo capaz de gerar cultura e empenho social:
Bento XVI na celebração de Vésperas com Te Deum final
(31/12/2011) Bento XVI presidiu esta tarde na Basílica de S. Pedro a celebração das
primeiras vésperas da solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, seguindo-se a exposição
do Santíssimo Sacramento , o canto tradicional do Te Deum de fim de ano e a bênção
eucarística. É muito sugestivo, neste fim de ano, - disse o Papa na homilia -
escutar novamente o anúncio jubiloso que o apóstolo Paulo dirigia aos cristãos da
Galácia: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sujeito à lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, para que recebêssemos
a adoção filial» (Gal 4,4-5). Essas palavras tocam o cerne da história de todos e
a iluminam, antes, a salvam, porque desde o dia do em que nasceu o Senhor, chegou
para nós a plenitude do tempo. Portanto, já não há mais lugar para a angústia diante
do tempo que passa e não volta para trás; agora é o momento de confiar infinitamente
em Deus, por quem sabemos ser amados, para quem vivemos e a quem a nossa vida se orienta,
na espera do seu retorno definitivo. Desde que o Salvador desceu do Céu, o homem já
não é mais escravo de um tempo que passa sem um porquê, ou que esteja marcado pela
fadiga, pela tristeza, pela dor. O homem é filho de um Deus que entrou no tempo para
resgatar o tempo da falta de sentido ou da negatividade, e que resgatou toda a humanidade,
dando-lhe, como nova perspectiva de vida, o amor que é eterno.
Bento XVI salientou
depois que a Igreja vive e professa esta verdade e quer proclamá-la novamente hoje,
com renovado vigor espiritual. Nesta celebração, temos motivos especiais para louvar
o Senhor pelo seu mistério de salvação, presente no mundo por meio do ministério eclesial.
Temos muitos motivos de agradecimento ao Senhor por tudo o que a nossa comunidade
eclesial, no coração da Igreja universal, realiza a serviço do Evangelho nesta Cidade.
O Papa deu graças ao Senhor, nomeadamente, pelo promissor caminho comunitário
dirigido a adequar a pastoral ordinária às exigências do nosso tempo, por meio do
projeto «Pertença eclesial e corresponsabilidade pastoral». Este tem o objetivo de
colocar a evangelização em primeiro lugar; para fazer mais responsável e frutífera
a participação dos fiéis nos Sacramentos, de tal forma que cada um possa falar de
Deus ao homem contemporâneo e anunciar o Evangelho com eficácia aos que nunca o conheceram
ou o esqueceram.
A questio fidei é também o desafio pastoral prioritário
para a Diocese de Roma. Os discípulos de Cristo estão chamados a fazer renascer em
si mesmos e nos demais a saudade de Deus e a alegria de viver n'Ele e de testemunhá-Lo,
a partir da pergunta, sempre muito pessoal: Por que creio? É necessário conceder o
primado à verdade, confirmar a aliança entre a fé e a razão, como as duas asas com
as quais o espírito humano se eleva à contemplação da Verdade (cf. João Paulo II,
Enc. Fides et ratio, Prólogo); tornar fecundo o diálogo entre o cristianismo
e a cultura moderna; levar à redescoberta da beleza e da atualidade da fé, não como
um ato em si mesmo, isolado, que diz respeito a algum momento da vida, mas como uma
orientação constante, mesmo nas escolhas mais simples, que leva à unidade profunda
da pessoa, tornando-a justa, ativa, benéfica, boa. Trata-se de reavivar uma fé que
instaure um novo humanismo capaz de gerar cultura e empenho social.
Na sua
homilia Bento XVI recordou que na Assembleia diocesana do passado mês de junho, a
Diocese de Roma iniciou um caminho de aprofundamento sobre a iniciação cristã e sobre
a alegria de gerar novos cristãos para a fé. De fato, anunciar a fé no Verbo feito
carne é o cerne da missão da Igreja, e toda a comunidade eclesial deve redescobrir
esta tarefa, com um renovado ardor missionário. As novas gerações que mais sentem
a desorientação, acentuada também pela crise atual, não só econômica, mas também de
valores, -salientou o Papa - têm necessidade, sobretudo, de reconhecer em Cristo
Jesus «a chave, o centro e o fim de toda a história humana» (Conc. Vat. II. Gaudium
et spes, 10).
Os pais são os primeiros educadores na fé dos seus filhos
desde a mais terna idade; por isso, é necessário apoiar as famílias na sua missão
educativa, por meio de iniciativas adequadas. Ao mesmo tempo, é desejável que o caminho
batismal, primeira etapa do itinerário formativo da iniciação cristã, além de favorecer
uma consciente e digna preparação para a celebração do Sacramento, dê a devida atenção
aos anos imediatamente sucessivos ao batismo, com os itinerários apropriados que levem
em conta as condições de vida das famílias. Neste contexto Bento XVI animou as comunidades
paroquiais e as outras realidades eclesiais a continuarem a refletir para promover
uma melhor compreensão e recepção dos sacramentos através dos quais o homem se torna
participante da vida mesma de Deus. Que a Igreja de Roma - foram os votos do Papa
- possa sempre contar com fiéis leigos, prontos a oferecer a sua contribuição pessoal
para edificar comunidades vivas, que permitam que a Palavra de Deus entre no coração
dos que ainda não conheceram o Senhor ou se afastaram d'Ele. Ao mesmo tempo, é oportuno
criar ocasiões de encontro com a Cidade, que permitam um diálogo proveitoso com todos
os que estão à procura da Verdade.
A Igreja nos sugere concluir o ano dirigindo
ao Senhor o nosso agradecimento por todos os seus benefícios. É em Deus que deve terminar
a nossa última hora, a última hora do tempo e da história. Esquecer este final da
nossa vida significaria cair no vazio, viver sem sentido. Por isso, a Igreja coloca
nos nossos lábios o antigo hino Te Deum. É um hino repleto da sabedoria de
tantas gerações cristãs, que sentem a necessidade de elevar o seu coração, na certeza
que estamos todos nas mãos cheias de misericórdia do Senhor.
«Te Deum laudamus!».
Assim canta também a Igreja que está em Roma, pelas maravilhas que Deus realizou e
realiza nela. Com a alma cheia de gratidão nos dispomos a atravessar o limiar do ano
2012, lembrando que o Senhor vela sobre nós e nos protege. Nesta tarde, queremos confiar-Lhe
o mundo inteiro. Coloquemos em suas mãos as tragédias do nosso mundo e ofereçamos
a Ele também as esperanças de um futuro melhor. Depositemos estes votos nas mãos de
Maria, Mãe de Deus, Salus Populi Romani.