África: sementes de qualidade mudam cenário da agricultura em Moçambique
Roma (RV) -
O ano termina com o fim de um projeto da Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação, a FAO, para fortalecer o setor de sementes em Moçambique.
Para
entender a evolução pela qual passou o setor de sementes na agricultura em Moçambique,
precisamos voltar aos anos de 2007 e 2008, quando a variação no preço dos alimentos
atingiu a população, provocando uma crise na alimentação. Para enfrentar a crise,
só havia uma saída: aumentar a produção de alimentos no país.
Por meio de
um financiamento de mais de sete milhões de euros, provenientes de um fundo para a
alimentação da União Europeia, a FAO trabalhou em parceira com quinze companhias e
cerca de mil pequenos produtores de sementes em sete das onze províncias de Moçambique.
Em dois anos, cerca de 3 mil e quinhentas toneladas de sementes certificadas de milho,
arroz, feijão e girassol foram plantadas.
A Chefe para Emergências na África,
Cristina Amaral, explica o que deve acontecer agora que o programa chega ao fim. Isso
porque a partir de agora os agricultores terão de pagar o preço estabelecido pelo
mercado, diferente do que acontecia antes, quando os produtores cadastrados recebiam
as sementes e insumos de graça.
“O projeto apoiou várias empresas de sementes,
e essas empresas vão continuar a fornecer a seus mercados. Portanto, a partir de agora
deve haver um efeito multiplicador do projeto mesmo na ausência de um financiamento
direto. A produção de sementes deve se tornar no futuro um sector viável do ponto
de vista comercial”.
Aproximadamente 25 mil agricultores utilizaram os cupons
da FAO para ter acesso às sementes e também a fertilizantes. O resultado foi a produção
de 90 mil toneladas de trigo e arroz. Contudo, do total de terras cultiváveis em Moçambique,
apenas 10% delas são utilizadas. E na maior parte dos casos, as sementes utilizadas
nestas terras não são de boa qualidade. De acordo com a FAO, ampliar a área cultivada
é chave para que Moçambique possa se tornar auto-suficiente na produção agrícola.
“O
setor da indústria sementeira nunca se desenvolveu suficientemente no país. Portanto,
nunca se criou um mercado para as sementes. O grande desafio não é só produzir sementes
de qualidade, mas fazer com que os pequenos agricultores tenham possibilidade de comprar
essas sementes. Promover também o acesso a essa tecnologia, criar ter uma rede de
comercialização de insumos agrícolas que chegue às zonas mais afastadas no meio rural.
Depois, é preciso apoiar a comercialização agrícola, na qual os pequenos agricultores
possam agregar valor a seus produtos e vender com melhores preços”.