(28/12/2011) As intervenções de vários bispos diocesanos portugueses, durante as
celebrações natalícias deste ano, destacaram o significado desta festa cristã em tempos
de crise para o país, deixando apelos à Igreja e à sociedade civil. O arcebispo
de Braga, D. Jorge Ortiga, disse na homilia da Missa de Natal que esta é “a Festa
da Família”, deixando votos de que todos “disponham de trabalho digno e justo para
que possam viver em festa a partir da sua família, à semelhança da família de Nazaré”. “Se
pode ser importante garantir a produtividade para se poder subsistir, não podemos
aceitar tudo, desequilibrando os tempos do trabalho com os da família, tempo vital
para intensificar as relações familiares”, indicou o prelado. Na Sé de Lisboa,
D. José Policarpo questionou domingo “como foi possível um mundo marcado pelo ateísmo
ou pela indiferença em relação a Deus”. “O desconhecimento ou mesmo a rejeição
de Cristo são fruto das ‘trevas’ em que caiu a humanidade”, assinalou o cardeal-patriarca,
sublinhando que “que a força recriadora de Cristo está presente no coração de todos
os homens, mesmo daqueles que não 0 reconhecem”. D. Manuel Clemente, bispo do Porto,
pediu que “a obra de Cristo” se “desdobre em mil e uma atitudes de solidariedade,
justiça e paz junto de quem mais sofra no corpo ou na alma as presentes vicissitudes”. “A
fé com que celebramos esta grande solenidade manifesta-se necessariamente numa caridade
ainda maior”, acrescentou. Em Coimbra, D. Virgílio Antunes disse que “sem espírito
de Natal podem salvar-se políticas, economias, direitos, privilégios, mas não se salva
a pessoa”. “Sem espírito de Natal tornamo-nos objeto dos negócios discretamente
realizados entre os estados democráticos ou totalitários, ficamos à mercê dos detentores
da economia local ou mundial, somos joguetes dos malabaristas do setor financeiro
e reféns dos que, sob a aparência da modernidade, pervertem o justo e reto ordenamento
ético da sociedade”, alertou. D. Manuel Felício, bispo da Guarda, apelou na véspera
do Natal à “responsabilidade social, também no que diz respeito à colaboração na sustentabilidade
das empresas por parte dos seus trabalhadores conjuntamente com os responsáveis pela
administração”. “É previsível que também estas formas de solidariedade nos sejam
pedidas, no exercício da nossa responsabilidade social, nos próximos tempos, tanto
mais quanto verificamos que o direito das nossas terras a medidas específicas de apoio
ao desenvolvimento, está a ser esquecido e alguma discriminação positiva que ainda
tínhamos acabou”, advertiu. Mais a norte, o bispo de Bragança-Miranda, D. José
Cordeiro, declarou que “o problema não é esperar ou desesperar, ser otimistas ou pessimistas,
mas encontrar fundamento para a Esperança”. De Viseu, chegou o pedido de D. Ilídio
Leandro, bispo da diocese, para “aceitar o desafio de empenhamento na construção de
um mundo novo, com entusiasmo, esperança e sem medo”. “Quando tudo corre bem e
parece ser o dinheiro e os bens deste mundo a conduzirem as ações importantes, parece
que não há lugar para Jesus nem para os seus valores (…). Porém, hoje parece começar
a haver lugar, pois os bens deste mundo escasseiam e a crise parece levar a melhor,
pondo a felicidade, a segurança e o bem-estar em perigo, com a esperança no futuro
a vacilar”, referiu.