Cidade do Vaticano
(RV) - A primeira leitura da noite de hoje, extraída de Isaías, anuncia a restauração
de Jerusalém e deve ser refletida à luz do nascimento e da ressurreição de Jesus,
como devem ser relidos todos os textos do Antigo Testamento. Mas vejamos Isaías:
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam
uma terra sombria como a morte.” Situamo-nos diante de um nova criação. Deus vai restaurar
a justiça, pondo ordem no caos. È a nova criação!
“Porque o jugo que pesava
sobre eles, a canga posta sobre seus ombros, o bastão do opressor, tu o despedaçaste
como no dia de Madiã.” Na nova sociedade não haverá opressão. Deus elimina os instrumentos
que a possibilita. Serão eliminados os instrumentos de opressão e o ressentimento,
pois tudo aquilo que causa opressão e a faz reviver no coração, tudo aquilo que faz
perenizar a dor, será eliminado.
“Porque um menino nos nasceu, um filho nos
foi dado..., e lhe foi dado este nome: Conselheiro maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno,
Príncipe da paz.” A razão deste júbilo, desta esperança, está na chegada de um menino
que é identificado como gestor da nova sociedade na qual o pobre, o pequeno serão
respeitados e a justiça imperará. O grande sinal disso tudo é a volta da realeza
autêntica. Não será mais um homem a reinar sobre Israel, mas o Senhor. Daí a proclamação:
“Reina teu Deus”! A opressão, simbolizada por seus instrumentos que produzem dor,
sangue e luto, tem seus dias contados porque nasceu a Luz, o Salvador, o Príncipe
da Paz.
No relato de Lucas já podemos constatar isso. Temos um imperador poderoso,
César Augusto, e um povo dominador, os romanos. Contudo os anjos anunciam que o salvador
é um bebê, nascido em um local nada nobre e ele é visitado por pessoas socialmente
e religiosamente desclassificadas. Não foi em uma grande metrópole, nem em uma
família abastada e nem no conforto de uma residência, que nasceu o Salvador da Humanidade,
o Filho de Deus.
Vemos a chegada desse menino já mudando os conceitos desde
seu nascimento. Ele nasce como migrante, em um estábulo, em meio a animais, porque
não havia lugar para acomodá-lo; seu berço não é o preparado por José, mas uma manjedoura,
e suas visitas são pobres pastores. A história do nascimento de Jesus é bem diferente
do que costumamos ouvir quando se trata do nascimento de príncipes e filhos de classes
ricas. Também é muito diferente do nascimento do filho de classe pobre. Jesus
nasceu durante uma viagem, fora da proteção de uma casa, longe dos parentes. A
única diferença é que seu nascimento, como Salvador, como Messias, é anunciado por
anjos, mas aos pastores e não aos poderosos. Mais ainda, aos pastores é dada a missão
de comunicá-la ao povo. Ora, a grande novidade, a notícia mais importante que o
mundo poderia receber, vem diretamente de Deus e vai aos desprotegidos, aos impuros,
aos marginalizados, e são eles que deverão levá-la aos demais.
Podemos, desde
já, perceber que a ação de Deus no mundo é inovadora e muda radicalmente os padrões
estabelecidos. Ele tem um carinho especial por aqueles que são marginalizados, desprestigiados.
Ele olha a sinceridade do coração, as intenções que dele brotam. Mais ainda, ele disse
que veio para os pecadores.
A festa do Natal é uma grande oportunidade de repensarmos
nossos valores, nossas opções, quais são nossos ídolos, enfim, onde está nosso coração.
Uma certeza podemos ter, Deus fez sua opção por aqueles que são pobres, que não possuem
o necessário para uma vida digna, mas que são humildes, isto é, diante de Deus conhecem
o seu lugar e se colocam na posição de discípulos.
São Paulo nos diz em sua
Carta a Tito que essa Salvação...nos ensina abandonar as paixões mundanas, e a viver
neste mundo, com autodomínio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a
manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Esperar em
Jesus e viver os valores evangélicos é pertencer ao reino de Cristo e não ao de César. Peçamos
ao Senhor, para nós e para as pessoas que amamos, uma mudança de valores. Que deixemos
aquilo que traduz a riqueza deste mundo, que é passageira e caduca, e assumamos de
vez as riquezas anunciadas pelo Menino de Belém, porque nos satisfazem plenamente
e para sempre. São eternas! Que o Senhor nos dê esta graça como sinal de Sua Presença
em nossa vida. Aí será verdadeiramente um Santo Natal! Feliz Natal!