Frei Cantalamessa: no mundo secularizado, os leigos cristãos chegam com o Evangelho
onde os padres não chegam
Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI iniciou seus compromissos desta sexta-feira
participando, na Capela Redemptoris Mater da residência pontifícia, da quarta
e última pregação do Advento.
Não se pode prescindir, hoje, dos leigos cristãos,
das famílias, sobretudo, na ação evangelizadora da Igreja. Foi o que afirmou o Pregador
da Casa Pontifícia, o Frade Capuchinho Raniero Cantalamessa, que na manhã desta sexta-feira
concluiu, no Vaticano, o ciclo das pregações de Advento feitas na presença do Papa
e da Cúria Romana.
Na quarta meditação, o Pregador pontifício reconheceu aos
fiéis leigos um papel comumente mais "decisivo" do que o do clero em difundir o Evangelho
em contextos secularizados.
De fato, Frei Cantalemessa dedicou sua última reflexão
do Advento ao que chama de "quarto mundo": o quarto mundo – segundo a sua reconstrução
– das "ondas evangelizadoras" que caracterizaram os dois mil anos de história da Igreja.
Após os bispos protagonistas do anúncio de Cristo no mundo greco-romano; os monges
no mundo bárbaro; e os frades no Novo mundo americano, o religioso se deteve sobre
os fiéis leigos e a sua capacidade de incidir no mundo secularizado "pós-cristão".
É
claro – reconheceu o Pregador pontifício – que não se pode apresentar-se a um homem
que "perdeu todo e qualquer contato com a Igreja e não mais sabe quem é Jesus" e impor-lhe
vinte séculos de doutrina e tradição. Ademais, se "não se pode mudar o essencial do
anúncio", se "pode e deve mudar o modo de apresentá-lo", fazendo um esforço de "criatividade":
"Temos
um aliado nesse esforço: o falimento de todas as tentativas do mundo secularizado
de substituir o Kerygma cristão com outros "gritos" e outros "manifestos".
Cito sempre o exemplo da célebre pintura do pintor norueguês Edvard Munch, intitulado
"O grito" (...) é um grito de vazio, sem palavras, sem som. Parece-me a descrição
mais eficaz da situação do homem moderno que, tendo esquecido o grito repleto de conteúdo
que é o Kerygma, acaba tendo que gritar no vazio a própria angústia existencial."
Ao
invés, com o Evangelho, sempre é possível partir novamente de um anúncio autêntico,
vital, que não é – observou o Frade Capuchinho – nem "ilusão mental", nem uma "operação
de arqueologia", graças à "real contemporaneidade de Cristo que vive entre os homens
hoje, como dois mil anos atrás, graças à Eucaristia.
Portanto, com os Ministros
Extraordinários da Comunhão Eucarística, o Vaticano II descobriu também o protagonismo
dos leigos na evangelização. Estes últimos e, sobretudo, as famílias – prosseguiu
o religioso – têm uma potencialidade análoga ao processo de fusão do átomo, que os
torna no plano espiritual "uma espécie de energia nuclear da Igreja":
"Eles
não são mais simples colaboradores chamados a dar a sua contribuição profissional,
o seu tempo e os seus recursos; são portadores de carismas, com os quais – diz a Lumen
gentium – "estão aptos e prontos a assumirem obras e ofícios, úteis para a renovação
e a maior expansão da Igreja"."
Os leigos – ressaltou Frei Cantalamessa – são
aqueles que, muito mais do que os pastores, podem ir ao encontro dos que se distanciaram.
Para os pastores é mais fácil "alimentar com a palavra e os Sacramentos aqueles que
vêm a Igreja":
"A parábola da ovelha perdida apresenta-se hoje invertida: noventa
e nove ovelhas distanciaram-se e uma permaneceu no aprisco. O perigo é passar todo
o tempo e alimentar aquela única que ficou e não ter tempo, inclusive pela escassez
do clero – de sair em busca das perdidas. Nisso a contribuição dos leigos se mostra
providencial para os nossos tempos. A realização mais significativa nesse sentido
são os movimentos eclesiais. A específica contribuição deles para a evangelização
é oferecer aos adultos uma ocasião para redescobrir o seu batismo e tornar-se membro
ativo e engajado na Igreja." (RL)