Natal 2011 para as crianças africanas

Há um mês atrás o Papa Bento XVI encontrava-se em África. Pela primeira vez, no seu Pontificado, dedicou um encontro às criancinhas, convidando-as a uma vida de oração, “imitando Jesus nosso Irmão”, dando testemunho de fé, tal como fez uma das crianças extraordinárias da África, São Kizito, mártir do Uganda.
É com a imagem deste “Pai Natal” fora do comum, vestido de branco, e que lhes ofereceu com presente antecipado de Natal, um terço do rosário, que as criancinhas da África vão viver este Santo Natal.

Perante crianças habituadas a viver quotidianamente momentos difíceis, o Papa pôs em realce os momentos de alegria para qualquer criança cristã: o encontro com Cristo na Eucaristia, evocando a sua primeira comunhão.

“E agora, antes de vos abençoar todos com grande afeição, rezemos juntos uma Ave Marie para todas as crianças do mundo inteiro, especialmente para aquelas que sofrem de doenças, forme e guerra…”

Bento XVI deu-lhes o exemplo daquela que pelo seu “FIAT”, permitiu a realização do desígnio de Deus para com a humanidade – uma outra imagem forte deste tempo de Natal: a aceitação de Maria a que a vontade de Deus se realizasse.

Uma Ave Marie pelas intenções que as crianças tinham sublinhado nas suas palavras de boas-vindas ao Papa, um olhar sobre os diferentes males que as atingem, sobre os seus companheiros que não poderão viver este tempo de Natal na serenidade e na dignidade. Com efeito, as crianças de Cotonou não se esqueceram, dos seus coetâneos que vivem o martírio quotidianamente, vítimas duma sociedade egoísta: crianças-soldado, crianças exploradas para fins económicos, crianças esfomeadas, maltratadas por razões ocultas, doentes, órfãos, crianças rejeitadas e eliminadas.

Este Natal, para o mundo dos adultos, deveria ser vivido à luz da exortação pós-sinodal “Africae Munus”; deveria ser um tempo de tomada de consciência; um momento em que devem sentir ainda mais forte em si esse “apelo à metanóia, à conversão, à renuncia às tendências nocivas desta época…”

Este apelo à mudança de estilo de vida toma mais uma vez como modelo e ponto de referência, as pequenas criancinhas; o Reino dos Céus é prometido às crianças e aos que se assemelham com elas, e, como dizia o bem-aventurado Papa João Paulo II na sua mensagem para a Quaresma de 2004 (Angelus V domingo de Quaresma) “estes mais pequenos dos nossos irmãos que sofrem pela fome, pela guerra, pelas doenças, lançam ao mundo dos adultos um apelo angustiante. Que o seu grito mudo de dor não fique sem uma resposta”

Neste tempo de Natal, a recomendação de “Africae Munus” segundo a qual “As crianças são um dom de Deus à humanidade, elas devem, portanto, ser objecto duma atenção particular da parte das suas famílias, da Igreja, da sociedade, e dos governantes, pois que são fonte de esperança e de renovação na vida”, interpela toda e qualquer pessoa humana.

Em primeiro lugar, as próprias crianças cristãs que devem viver em coerência o seu baptismo, partilhando com os outros que as rodeiam a sua experiência de vida em Cristo e o amor que recebem de Deus através da oração.

Seguindo o exemplo de Kizito, o mais jovem dos mártires do Uganda, baptizado à pressa por São Carlos Luanga na noite de 25 de Maio de 1886, e que foi fortificado pelos conselhos deste último, a quem assegurou: “Se devemos morrer por Jesus, fá-lo-emos juntos, de mãos dadas”. No dia seguinte foi condenado à morte na fogueira em Namugongo, e executado a 3 de Junho, naquela mesma localidade, e cujas derradeiras palavras foram: “Adeus meus amigos, estamos em caminho”.

As crianças da África deveriam sentir-se em caminho, empenhando-se a fazer o bem, em coerência com a sua fé.

Assim, muitas crianças africana, mas não só, que vivem este tempo de Natal em circunstâncias difíceis, semelhantes ao martírio de Kizito na fogueira de Namugongo têm, mais do que nunca, necessidade de ser fortificadas na sua fé pelos adultos, assim como São Kizito o foi por São Carlos Luanga.

Por: Marie-José Muando Buabualo
Programa Francês/África – Rádio Vaticano