«Há um mundo de portugueses» que nunca viveram «acima das possibilidades», diz D.
Januário Torgal
(3/12/2011) O argumento que Portugal gasta mais do que os seus recursos deve ser
usado com pudor porque parte da população viveu sempre na pobreza, considera o bispo
das Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal, na mensagem de Natal. Depois
de salientar que “a fraude da cidade burguesa consistiu em não mostrar os pobres”,
pretensão que subsiste “aqui e acolá”, o prelado católico reclama o “exercício de
comportamentos limpos, sem conveniências nem interesses” para defender os “princípios
que regem a dignidade da pessoa”. “A sociedade será sempre julgada pelos valores
da justiça e da solidariedade, ao conferir aos mais abandonados o primado dos cuidados
e do orçamento, construindo um desenvolvimento de cariz humano”, acentua. Por isso,
acrescenta, “a opção preferencial pelos mais vulneráveis nunca se poderá compadecer
com apoios meramente circunstanciais, ao recusar limites à imaginação fraterna e ao
exercício da interajuda”. O responsável está convencido que a ação “inovadora”
e a “competência” tornam “efetivo o improvável” e fazem com que a “esperança” nunca
seja vivida “como uma ilusão”, mas com “a certeza” de que “cada um tem jus ao trabalho,
à estabilidade da família, à qualificação de um serviço profissional, ao respeito
e à paz”. “Na linha do pensamento social da Igreja, os frutos do trabalho comum
devem ser divididos com equidade e justiça social”, aponta o texto, alertando que
“nunca se respirará a tranquilidade enquanto não se experimentar que se é sujeito
e não objeto da vida económica, social e política”. O prelado apela ao reconhecimento
“do que tem sido efetivado de positivo e sério” nas Forças Armadas e de Segurança,
mas realça que “quem defende o progresso e os critérios da promoção humana tem a missão
de atender muito mais à inquietação do vazio do que ao encantamento do conseguido”. “Neste
domínio, a competência do pensar e do proceder, se aponta obstáculos, é porque está
certa de que os erros são para corrigir e as expectativas verdadeiras para realizar”,
assinala. Referindo-se ao Natal, a mensagem declara que o “ar festivo” da quadra
é “sinal de convicções cristãs e dos motivos de quem partilha”, com os fiéis, “as
causas da Humanidade”. “Um Menino pobre nasceu e apareceu no mundo. Uma cara de
criança era a de um Deus connosco, propondo-nos o fascínio de sermos humanos, sem
fronteiras. Ele nos ensinou a nunca ser natural a existência e fatal o crescimento,
em número, dos excluídos”, frisa D. Januário Torgal, que deixa votos de “um Natal
de verdade”.