Editorial: Escravidão moderna, um drama do século XXI
Cidade do Vaticano (RV) – O mundo celebrou
ontem, 2 de dezembro, o Dia Internacional para a abolição da escravidão. Estamos em
pleno século XXI e continuamos a ouvir e receber notícias sobre essa chaga que ainda
hoje persiste em nossa sociedade. A abolição do comércio transatlântico de escravos
no século XIX não erradicou esta prática mundial. Pelo contrário, assumiu outras formas,
que persistem ainda hoje: servidão por dívida e trabalho forçado ou obrigatório, tráfico
de mulheres e crianças, escravidão doméstica e prostituição forçada, incluindo de
crianças, escravidão sexual, casamentos forçados e venda de esposas, trabalho infantil
e servidão infantil, entre outros. Uma realidade que infelizmente também no nosso
Brasil se faz presente. No mundo - segundo Padre Ari, Assessor da CNBB - há um percentual
de 12 a 27 milhões de pessoas vitimadas. Este número varia porque é difícil contabilizar
os dados de pessoas vítimas da escravidão pelas relações que são estabelecidas. No
caso do Brasil, a cada ano, entram no ciclo da escravidão de 25 a 40 mil pessoas.
Esse drama da exploração do ser humano obriga a sociedade atual a manter-se vigilante
e a intensificar os seus esforços para erradicar essas formas contemporâneas de escravidão.
A escravidão moderna é um crime e as pessoas que o cometem, toleram ou facilitam devem
ser levados perante a justiça. A preocupação da comunidade internacional com a situação
das pessoas que vivem em condições de escravidão deu origem à criação de vários instrumentos
jurídicos importantes, o mais recente dos quais é o Protocolo para Prevenir, Reprimir
e Punir o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças, que entrou em vigor
em 2003 como um complemento da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional. Três fatores contribuem diretamente para que esta triste realidade
ainda perdure: ganância, miséria, impunidade. No Brasil temos ainda o Dia de Combate
ao Trabalho Escravo, que se comemora no dia 29 de janeiro, data que teve início em
2004, após o assassinato de quatro funcionários do Ministério do Trabalho, quando
apuravam denúncia de trabalho escravo na zona rural de Unaí, Minas Gerais. Segundo
levantamentos do Observatório Social, nos últimos quinze anos foram libertadas mais
de 38 mil pessoas em diferentes regiões do Brasil. Um desafio que a sociedade brasileira
junto com a Igreja Católica e os homens de boa vontade devem enfrentar. O trabalho
escravo é ainda sintoma de uma sociedade doente, onde os valores são pisoteados, onde
a dignidade das pessoas não conta, onde o lucro e a ganância fazem parte de um desenho
superior no qual o homem se torna somente objeto e jamais sujeito. A igreja no
Brasil através da Pastoral da Terra e de outras pastorais está ao lado dos explorados
e marginalizados, esperançosa de que o homem seja respeitado e que seu direito a um
trabalho digno e remunerado seja levado em consideração, não somente porque é um valor
cristão, mas porque é um valor do homem e da sociedade que o acolhe. (Silvonei José)