2011-11-29 16:59:12

A mensagem da Exortação Apostólica Pós-Sinodal,
"Africae Munus"


O Papa Bento XVI assinou, no passado dia 19 de Novembro, na Basílica da Imaculada Conceição, em Ouidah, no Benin, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Africae Munus. Este documento que deverá guiar as actividades da Igreja em África nos próximos anos, contém indicações práticas e pastorais. À luz da modernidade, vê a África como um continente caracterizado por diversos elementos positivos, mas também a braços com uma série de desafios sérios e complexos, tais como guerras civis, conflitos étnicos, doenças, analfabetismo...
Embora a Exortação seja endereçada, antes de mais, aos católicos, não ignora, contudo, os adeptos doutras religiões, numa óptica de dialogo inter-religioso e ecuménico. Por conseguinte, a Exortação assume uma grande importância também para os sequazes das outras Igrejas e confissões religiosas em África, como o Islão e a Religião Tradicional Africana, pois que a reconciliação, a justiça e a paz dizem respeito a todos os africanos.

Os maiores desafios para a África

A Exortação está subdividida em duas partes. A primeira identifica a missão da Igreja, que tem a sua origem na pessoa de Jesus Cristo, O qual, através da Paixão, a morte e a Ressurreição, reconciliou o homem com Deus e com o seu próximo.
A segunda parte do texto convida todos os católicos em África a promover a justiça e a paz na Igreja e na sociedade. A Reconciliação é o coração do Cristianismo. É portanto, imprescindível tanto para os cristãos, famílias ou comunidades cristãs, como para a Igreja, para as Igrejas, em qualquer país e continente.
Africae Munus vem na linha de continuidade com o documento final do primeiro Sínodo dos bispos para a África, Ecclesia in África, que punha em realce o conceito de Igreja Família de Deus, chamada a ser “luz e sal da Terra”, sinal de reconciliação entre Deus e a humanidade, não só do ponto de vista religioso, mas também político, económico e social. A Igreja representa, assim, uma instância fundamental para a promoção da justiça e do amor nas relações entre as pessoas. Todo o crente em África é chamado a tornar-se veículo de reconciliação.

Africae Munus põe também a tónica sobre a importância do Sacramento da Penitência, convidando os católicos a redescobrir este valor capaz de levar o homem a reconciliar-se com Deus e com o próximo. Apoiando-se no valor da inculturação, o documento reconhece a determinados ritos tradicionais de reconciliação a capacidade de ajudar os fiéis a obter um conhecimento profundo e sincero de Cristo. Mas, a Igreja deve ser, ao mesmo tempo, uma atenta observadora dos valores que estão na base de cada cultura, por forma a identificar nelas os aspectos que se harmonizam com o Evangelho, e os que, pelo contrário, podem constituir um perigo para a Igreja e para o bem dos seus filhos.

A Exortação dedica igualmente um amplo espaço à família, célula viva da sociedade e da Igreja, e lugar privilegiado para a prática da cultura do perdão. A família é representada em termos de igreja doméstica, cujos membros são ao mesmo tempo “evangelizadores e evangelizados”. Deus deve ser, portanto, posto no centro da vida de cada família, a fim de a guiar na missão de promoção da justiça. Cada núcleo familiar é, portanto, convidado a dedicar um espaço significativo à oração, à celebração da liturgia dominical e dos dias de festa, à leitura quotidiana do Evangelho por forma a que cada um dos seus membros possa familiarizar-se com a Palavra de Deus, fonte da nossa paz.

O documento aprofunda também a questão dos anciãos em África, apreciados pela sua sagacidade e experiência e por constituírem uma componente positiva da família. Os anciãos desempenham um papel essencial nas sociedades africanas como guias na tutela da estabilidade interna, e também na Igreja, pela sua capacidade de comunicar a mensagem de paz.

Mais ainda: uma atenção especial vai às mulheres, espinha dorsal das comunidades locais, e às crianças, consideradas dom de Deus, futuro do continente, fonte de esperança e renovação para a Igreja e a sociedade. Infelizmente, estes dois grupos continuam a ser vítimas de injustiças. Africae Munus convida os cristãos a combater e a denunciar todas as formas de injustiça contra as mulheres e as famílias e a proteger, de forma especial, os próprios filhos, empenhando-se na construção dum mundo melhor.

Nas sendas da reconciliação

A Exortação dá indicações práticas para a promoção da paz a partir da conversão dos corações. O fiel pode experimentar essa mudança, pondo-se ao serviço de Cristo e conduzindo uma vida caracterizada pela justiça. Na sua acção de evangelização a Igreja em África é encorajada a concentrar-se sobre a catequese, que guia a conversão individual e ajuda os sequazes de Cristo a pôr em prática, quotidianamente, os valores cristãos no seio da família e da sociedade. Os filhos de Deus são convidados a redescobrir o valor da reconciliação através do conhecimento dos Santos – reconciliados com Deus e mensageiros de justiça e de paz – e a promover a devoção junto das comunidades.

Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, todos são chamadas a empenhar-se a favor do bem-estar e da estabilidade colectiva, que dependem, necessariamente, do processo de reconciliação. Os bispos são convidados a reforçar a própria comunhão com o Papa, a colaborar com espírito colegial com os outros bispos do país, assim como com os religiosos e leigos da própria diocese, na medida em que a harmonia favorece a tutela da paz.
Às Conferências Episcopais é pedido que colaborem entre si, a nível regional e continental, e o SCEAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e do Madagáscar) é apresentado em termos de estrutura de solidariedade e comunhão eclesial, extremamente necessária como ponto de apoio às actividades de cada diocese.

Africae Munus explica ainda que a Eucaristia é a base da reconciliação entre o homem e Deus: o acolhimento deste sacramento transforma os fiéis num único corpo místico com Cristo, constituindo a base para a união de todos os homens em volta de Deus, sem distinção de etnia, tribo, raça, pertença politica, estatuto económico ou social. A fim de levar a uma profunda apreciação e a uma maior devoção do mistério da Eucaristia, a Exortação Apostólica pós-sinodal recomenda a celebração de um Congresso Eucarístico continental.
A cada uma das Conferências Episcopais da África é sugerido celebrar, em cada ano, um dia ou uma semana de reconciliação, de modo particular durante a Quaresma, a fim de ajudar os católicos a viverem em paz no seio da própria comunidade e com os fieis das outras confissões religiosas. A nível continental, o SCEAM poderá proclamar, de acordo com a Santa Sé, um ano de reconciliação, invocando o perdão pelos males e injustiças sofridos pelas África. Tudo com o intento de favorecer a convivência pacífica entre as populações e grupos internos às Igrejas e à sociedade que dessa injustiças foram vítimas.

À luz destas considerações, podemos concluir este espaço de aprofundamento afirmando, com convicção, de que Africae Munus invoca um reforço global da Igreja em África, a fim de a ajudar a ocupar um lugar essencial no seio da Igreja Católica Universal.

John Baptist Tumusiime, Programa Inglês-África, Rádio Vaticano.









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