Cairo (RV) - "Os confrontos no Cairo continuam” – disse à Agência Fides Padre
Luciano Verdoscia, missionário comboniano que vive e trabalha na capital do Egito,
onde nos últimos dias morreram pelo menos 44 pessoas e cerca de 400 pessoas ficaram
feridas nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança na Praça Tahrir (lugar
símbolo da revolução egípcia). “São duas as questões colocadas pelos manifestantes
que se confrontaram com a polícia e o exército na Praça Tahrir” explica Padre Luciano.
“Em primeiro lugar os prisões realizadas pelas forças armadas e as condenações feitas
pelos tribunais militares a vários militares que neste período participaram de manifestações
e outras atividades políticas. Além disso, a polícia de segurança do Estado, formalmente
desativada depois da queda de Mubarak, retomou suas atividades e contribuiu para criar
mais desordens. Os manifestantes pedem primeiramente a libertação das pessoas presas
nestes meses por causa de seu compromisso político”.
“Outro aspecto - prossegue
o missionário – é o dos princípios acima da Constituição, que criaram um forte debate.
O Conselho Superior das Forças Armadas procurou mediações com os Irmãos Muçulmanos
e com os grupos salafitas, que às vezes, foram usados pelos militares para intervir
com manifestações na praça, a fim de desestabilizar outros componentes do protesto”.
Padre Luciano destaca que “nesses dias quem saiu às ruas foram, sobretudo, e novamente,
os jovens. Quando se fala de jovens, não é possível definir com exatidão a conotação
política, mas certamente essa juventude está interessada em ter um governo diferente
e um futuro melhor. Nessas últimas manifestações, os fundamentalistas não tiveram
uma forte visibilidade. No início, em 18 de novembro, se encontravam os Irmãos Muçulmanos,
que, porém, se retiraram da Praça Tahrir”.
Sobre a possibilidade de que esteja
em andamento um debate entre diversas visões da democracia no Egito, o missionário
responde: “O que se entende por democracia no norte da África e no Oriente Médio o
saberemos depois que este período turbulento passar. Sem dúvida, a população quer
a autodeterminação. Neste momento, para os egípcios democracia significa eleições
corretas, nas quais os cidadãos possam votar livremente naqueles que acreditam ser
dignos de governar”, conclui o Padre Luciano. (SP)