Filho de cacique morto no MS revela últimas palavras do pai
Cidade do Vaticano (RV) - “Cuidem desta terra”. Estas foram as últimas palavras
do cacique Guarani brutalmente assassinado diante da tribo, na reserva de Amambaí,
Mato Grosso do Sul, na semana passada.
Depois de mandar todos os índios deitarem
no chão, os homens atacaram Nísio Gomes e, segundo testemunhas, foram disparados tiros
contra a cabeça, peito, braços e pernas. O corpo do cacique de 59 anos foi levado
embora.
Tudo indica que o cacique seria o alvo principal do atentado, mesmo
com notícias confirmadas do desaparecimento de outros três adolescentes indígenas.
Quem
escutou as últimas palavras do cacique foi o filho Valmir, que as recontou à Survival
Internacional. “Não saiam desta terra. Cuidem dela com coragem. Esta é a nossa terra.
Ninguém os tirará daqui. Cuidem dos meus netos e de todas as outras crianças. Deixo
esta terra nas mãos de vocês”.
O cacique liderava uma tribo com cerca de 70
índios. No início deste mês os Kaiowás Guarani haviam retornado pela terceira vez
à sua terra ancestral, de onde foram expulsos há aproximadamente 30 anos para dar
lugar à pecuária, terminando por viver às margens de uma rodovia.
Diversos
membros da tribo denunciaram ainda que em dias anteriores haviam sofrido outros ataques
e que o acampamento estava cercado há duas semanas.
De acordo com Valmir, seu
pai foi ameaçado mais de uma vez por homens desconhecidos que foram até ao acompamento.
Um deles teria dito ao cacique: “Em breve morrerás”.
“Nós permaneceremos aqui.
Morreremos todos aqui. Não abandonaremos nossa terra ancestral”, declarou um dos caciques
dos Kaiowá Guarani.
As circunstâncias do homicídio de Nísio Gomes assemelham-se
às de Marcos Verón, outro cacique Guarani morto por homens contratados por um peacuarista
em 2003.
“Parece que os empreendedores agrícolas não ficarão contentes até
que todos os Guaranis não sejam exterminados”, declarou o diretor geral da Survival
Internacional, Stephen Corry. “Tal nível de violência, tão prolongado no tempo, era
frequente no passado, e levou à extinção de milhares de tribos. É vergonhoso que o
governo brasileiro permita que tudo isso ainda continue hoje”.
A FUNAI e a
Polícia Federal abriram inquérito para investigar o crime. (RB)