Conferência em Lisboa vai discutir «aberração institucional» do domínio franco-alemão
(9/11/2011) A Comissão Nacional Justiça e Paz organiza este sábado, em Lisboa, a
conferência “O futuro da Europa”, que entre outros temas pretende refletir sobre a
“aberração institucional” do domínio franco-alemão sobre os restantes países da União. “Além
de nada ter acontecido quando a Alemanha e a França não cumpriram os critérios de
défice, o que acontece agora são encontros entre aqueles países para tomarem decisões
que são impostas como se fossem de todos os membros do Euro”, afirmou à ECCLESIA o
presidente da Comissão ligada à Igreja Católica. Os responsáveis máximos do eixo
franco-alemão “é que resolvem tudo e os outros que aceitem”, diz Alfredo Bruto da
Costa, sublinhando que as decisões respeitantes ao continente “passam completamente
por cima da cabeça das populações”. “Isto não é a União Europeia mas um diretório
de duas pessoas e dois países”, assinala o economista, que quer debater de “forma
séria e consistente” a “aberração institucional” e o “défice democrático” causados
pelo domínio da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, e Nicolas
Sarkozy. Em abril, quando a conferência foi programada, “houve sinais” que a Europa
“era um conjunto de países lutando pelos seus interesses individuais”, e agora, com
o avolumar da crise das dívidas soberanas de alguns países, aquela situação “tornou-se
ainda mais clara”. O especialista em questões relacionadas com a pobreza pensa
que os estados da zona Euro têm duas alternativas: “Dar um passo em frente, no sentido
de maior coesão, o que significa ter algumas políticas comuns, ou acabar com a União
Europeia”. “Estamos neste momento a meio da ponte: ou andamos para trás e damos
como terminada a utopia que alguns europeus tiveram há algumas décadas, ou respondemos
ao que a realidade está a exigir”, sustenta o responsável, para quem a Europa atravessa
um período “muito frágil”. O professor universitário defende o aprofundamento da
coesão e salienta que os problemas económicos devem ser resolvidos em conjunto, em
vez de cada país procurar solucionar a crise à margem dos restantes estados membros. O
primeiro dos três painéis da conferência denomina-se “Europa da cultura e dos valores”,
contando com a participação do bispo do Porto, D. Manuel Clemente, além de Marçal
Grilo, Viriato Soromenho Marques e Marina Costa Lobo. “O problema dos valores está
na agenda de todos quantos se preocupam com a forma pragmática e tecnocrática das
decisões na Europa e até nas políticas nacionais”, refere Alfredo Bruto da Costa,
que dá como exemplo o orçamento de Estado português para 2012. O responsável considera
que “a população nunca foi informada” dos critérios que presidiram à distribuição
de verbas no orçamento para o próximo ano. O programa da conferência, organizada
em parceria com o Centro Nacional de Cultura e a Fundação Calouste Gulbenkian, prevê
a participação de Mário Soares e Guilherme d’Oliveira Martins no painel “Europa política”,
e João Ferreira Amaral e José Pena Amaral no debate sobre “Europa económica e financeira”. A
iniciativa decorre na Fundação Calouste Gulbenkian e tem entrada livre.