Dom Louis Sako: "Oriente Médio sem futuro para os cristãos"
Lisboa (RV) - Se a situação se mantiver como está não há futuro para os cristãos
no Oriente Médio, afirma o Arcebispo de Kirkuk, Dom Louis Sako, apontando os exemplos
dos países da Primavera Árabe, que estão caindo nas mãos dos islâmicos. “Se a situação
continuar assim no Oriente Médio, acho que os cristãos vão partir. Estamos vendo na
Tunísia, no Egito, na Líbia que os islâmicos estão tomando o poder”, afirma.
Mas
o pessimismo não é somente pelo futuro dos cristãos. Também os muçulmanos correm riscos
se não lutarem contra estas tendências. “Estão destruindo o Islã com esse fundamentalismo.
O Islã devia integrar-se na sociedade moderna, devia ser uma religião aberta. Não
há futuro para o Islã se eles mantiverem esse integralismo no estilo do século VII”,
considera o arcebispo.
O prelado iraquiano encontra-se em Portugal a convite
da Organização Ajuda à Igreja que Sofre para uma série de conferências sobre a situação
dos cristãos no seu país, que têm sofrido diversos ataques desde a queda do regime
de Saddam Hussein há quase oito anos. O ataque mais grave foi o atentado contra a
catedral de Bagdá, que causou a morte de mais de 40 fiéis que se encontravam participando
da Santa Missa. Dom Sako recorda esse dia com pesar: “Estávamos vendo tudo pela televisão
e ficamos chocados”, recorda.
A situação em Bagdá melhorou um pouco desde
o ataque à catedral de Bagdá, mas, na sua diocese de Kirkuk, que abrange a cidade
de Mosul, os sequestros e assassinatos continuam a ser habituais. “Em setembro, duas
igrejas foram atacadas. Temos muitos casos de sequestros, pessoas que são libertadas
mediante o pagamento de um resgate altíssimo. Tivemos um caso de um médico que foi
sequestrado e torturado durante dois meses, mas nunca abandonou a fé. Deixaram-no
na rua, meio morto, mas sobreviveu”, conta Dom Louis Sako.
No meio da diversidade
étnica e religiosa do Iraque, o arcebispo não tem dúvidas sobre quem está por detrás
dos ataques aos cristãos: “Há três grupos: há os fundamentalistas, que não aceitam
ninguém que não seja muçulmano; há os criminosos, que querem pedir resgates e ganhar
dinheiro; e há os políticos que querem o apoio dos cristãos e provocam estes ataques
para lhes dar a entender que, sem a sua proteção, estão perdidos”, afirma.
A
verdade é que os cristãos continuam sendo um alvo fácil. Com uma grande diáspora no
ocidente, são vistos como fonte de dinheiro para resgates e, ainda por cima, são das
poucas comunidades que não possuem milícias, nem outras formas de defesa. Esta hipótese,
aliás, é liminarmente rejeitada pela hierarquia cristã: “Não é normal para um cristão
recorrer à violência. Mesmo os muçulmanos estão sempre afirmando que os cristãos são
pacíficos e perdoam. Este testemunho é muito valorizado”, defende o arcebispo, que
rejeita também a ideia da criação de uma região autônoma para os cristãos, classificando-a
como uma “armadilha”. (SP)