São José do Rio Preto (RV) - Tendo em vista os diversos incidentes e atitudes
acontecidos na trajetória política da cidade de São José do Rio Preto, fatos que até
nos deixam preocupados, temos incentivado uma conduta que seja marcada pelo processo
de formação de nossas lideranças para o compromisso com a cidadania. Por iniciativa
da Pastoral Fé e Política diocesana, com o objetivo de refletir sobre “que contribuição
podemos dar no momento” para a cidade, como Igreja diocesana e como cidadãos cristãos,
reunimo-nos com os padres que compõem as quatro Regiões Pastorais da cidade. Como
bispo diocesano, juntamente com membros da citada Pastoral, participei das quatro
reuniões. Foi momento forte para o “ver da realidade”, e de oportunidade para cada
padre expressar, livremente, sua opinião e considerações referentes à história política
de nosso Município. Na visão de muitos, a Igreja não tem nada a ver com política.
Até dizendo que política é para os políticos. E justamente por isto temos de nos submeter
a uma classe política totalmente descompromissada com o bem comum. Sofremos as consequências
e não tomamos atitudes de reação. Há razoável número de sacerdotes, cada um com
seu jeito de ser, com sua formação política vindo da família, que tem também suas
reações nos momentos oportunos. Mas uma coisa parece ter ficado clara nas discussões:
temos que evitar ficar presos a este ou àquele político, que sempre nos usam para
ter voto. Você poderá estar concluindo: por que tal padre faz determinada acepção,
se o que o político faz, não está fazendo mais do que suas obrigações de servir a
comunidade? Estar preso a determinado político, numa dimensão de Igreja, é ameaçar
a transparência da evangelização. Em particular, como cidadãos, podem acenar para
um político considerado como “bom político”. Porém, fazer isto no púlpito é forçar
a liberdade de escolha e de preferência da pessoa. No púlpito, sim, é lugar de formar
as consciências, de mostrar as consequências de uma escolha politiqueira e irresponsável. Das
reuniões feitas sentimos uma grande indignação por parte dos presbíteros com o que
vem acontecendo. O que nos impressiona muito é que todos os políticos se dizem “cristãos”,
e até representantes de Igrejas. Creio que todas as Igrejas sérias se sentem envergonhadas
e até sujeitas a críticas por quem está de fora. Concluímos também a falta de formação
no nível Fé e Política, inclusive de nós padres. Por causa disto ficamos muito dependentes
e com trabalhos desarticulados. A sensação é que, como formadores de opinião, temos
contribuído pouco na formação de pessoas e de cidadãos. Na verdade, não temos tido
um posicionamento firme e claro, como Igreja e como Pastoral Fé e Política em relação
aos acontecimentos nefastos da política local. Está faltando atitude profética para
beneficiar a população. É preciso abrir os olhos para o bem comum. Não basta que
a cidade tenha alto nível de desenvolvimento. Ela deve ter ideologia política e políticos
comprometidos com o humano, abertos aos mais carentes, sem privilégios e grupos extremamente
voltados para seus próprios interesses. O bolo da riqueza precisa ser mais repartido,
favorecendo a todos e ao crescimento sustentável.
Dom Paulo Mendes Peixoto Bispo
de São José do Rio Preto