2011-11-05 14:45:03

Dom Paulo Mendes: Diocese e Política


São José do Rio Preto (RV) - Tendo em vista os diversos incidentes e atitudes acontecidos na trajetória política da cidade de São José do Rio Preto, fatos que até nos deixam preocupados, temos incentivado uma conduta que seja marcada pelo processo de formação de nossas lideranças para o compromisso com a cidadania.
Por iniciativa da Pastoral Fé e Política diocesana, com o objetivo de refletir sobre “que contribuição podemos dar no momento” para a cidade, como Igreja diocesana e como cidadãos cristãos, reunimo-nos com os padres que compõem as quatro Regiões Pastorais da cidade.
Como bispo diocesano, juntamente com membros da citada Pastoral, participei das quatro reuniões. Foi momento forte para o “ver da realidade”, e de oportunidade para cada padre expressar, livremente, sua opinião e considerações referentes à história política de nosso Município.
Na visão de muitos, a Igreja não tem nada a ver com política. Até dizendo que política é para os políticos. E justamente por isto temos de nos submeter a uma classe política totalmente descompromissada com o bem comum. Sofremos as consequências e não tomamos atitudes de reação.
Há razoável número de sacerdotes, cada um com seu jeito de ser, com sua formação política vindo da família, que tem também suas reações nos momentos oportunos. Mas uma coisa parece ter ficado clara nas discussões: temos que evitar ficar presos a este ou àquele político, que sempre nos usam para ter voto.
Você poderá estar concluindo: por que tal padre faz determinada acepção, se o que o político faz, não está fazendo mais do que suas obrigações de servir a comunidade? Estar preso a determinado político, numa dimensão de Igreja, é ameaçar a transparência da evangelização.
Em particular, como cidadãos, podem acenar para um político considerado como “bom político”. Porém, fazer isto no púlpito é forçar a liberdade de escolha e de preferência da pessoa. No púlpito, sim, é lugar de formar as consciências, de mostrar as consequências de uma escolha politiqueira e irresponsável.
Das reuniões feitas sentimos uma grande indignação por parte dos presbíteros com o que vem acontecendo. O que nos impressiona muito é que todos os políticos se dizem “cristãos”, e até representantes de Igrejas. Creio que todas as Igrejas sérias se sentem envergonhadas e até sujeitas a críticas por quem está de fora.
Concluímos também a falta de formação no nível Fé e Política, inclusive de nós padres. Por causa disto ficamos muito dependentes e com trabalhos desarticulados. A sensação é que, como formadores de opinião, temos contribuído pouco na formação de pessoas e de cidadãos.
Na verdade, não temos tido um posicionamento firme e claro, como Igreja e como Pastoral Fé e Política em relação aos acontecimentos nefastos da política local. Está faltando atitude profética para beneficiar a população. É preciso abrir os olhos para o bem comum.
Não basta que a cidade tenha alto nível de desenvolvimento. Ela deve ter ideologia política e políticos comprometidos com o humano, abertos aos mais carentes, sem privilégios e grupos extremamente voltados para seus próprios interesses. O bolo da riqueza precisa ser mais repartido, favorecendo a todos e ao crescimento sustentável.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto







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