Promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé apela à colaboração com
autoridades civis em casos de abusos sexuais. Análise do passado deve ajudar a corrigir
respostas desadequadas das instituições, incluindo a Igreja
(4/11/2011) O promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) afirmou
que a Igreja deve cooperar com a “autoridade civil” nos casos de abusos sexuais de
menores por membros do clero ou em instituições eclesiais. Monsenhor Charles Scicluna
assinala que “o abuso sexual de menores não é apenas um delito canónico ou a violação
de um código de conduta interno de um instituto, religioso ou não”. O responsável
pelo ministério público do tribunal da CDF, organismo da Santa Sé, falava num seminário
internacional sobre a proteção de menores, em Roma. Neste contexto, foi citada
a carta circular da Congregação, publicada em maio deste ano, na qual se determinava
o seguimento das “prescrições das leis civis no que toca o remeter os crimes às autoridades
competentes, sem prejudicar o foro interno sacramental”. “É evidente que esta colaboração
não se refere só aos casos de abuso cometidos por clérigos, mas diz respeito também
aos casos de abuso que implicam o pessoal religioso ou leigo que trabalha nas estruturas
eclesiásticas”, indicava a CDF. Monsenhor Charles Scicluna falou também na importância
de “revelar os abusos” que possam ter acontecido, denunciando-os às “autoridades superiores”. “Quando
a denúncia diz respeito a ministros religiosos, a divulgação pode ser dificultada
por considerações erróneas e deslocadas de lealdade e pertença”, referiu o responsável. A
intervenção apelou a uma “análise honesta” para “perceber o que não funcionou nos
trágicos casos nos quais não se geriu a situação e nos quais a resposta aos abusos
de menores foi desadequada, por causa de uma preocupação mal entendida pelo bom nome
das instituições”. Para o promotor de justiça da CDF, qualquer caso que envolva
membros do clero “desacredita o sacerdócio ministerial e lança a sombra da delinquência,
do crime e do comportamento errado sobre incontáveis representantes do clero e agentes
pastorais inocentes”. “Todos devemos reconhecer com honestidade intelectual e ter
consciência do facto de que o abuso de um menor é uma trágica ferida para a dignidade
da própria família humana”, prosseguiu. Monsenhor Charles Scicluna considera que
a Igreja Católica “sabe bem que todas as vezes que um dos seus ministros – seja um
bispo, um sacerdote, um diácono ou um agente pastoral leigo – abusa sexualmente de
um menor, uma trágica ferida é infligida à comunidade”, para lá do “indescritivelmente
repugnante causado à criança”. “As instituições, incluindo as Igrejas, fariam bem
em mostrar a sua abertura à pesquisa e ao desenvolvimento no campo da prevenção dos
abusos sobre menores”, observou.