Cidade do Vaticano (RV) – O Vaticano, através do Pontifício Conselho da Justiça
e da Paz publicou no início desta semana uma nota sobre a reforma do sistema financeiro
internacional. Tal documento, apresentado aos jornalistas pelo presidente desse organismo
vaticano, Cardeal Peter Turkson pede a “criação de uma autoridade pública mundial,
a serviço do bem comum”, afirmando que é o único horizonte compatível com as novas
realidades do nosso tempo diante da atual crise econômica e financeira mundial.
Esse
documento pede a elaboração de formas de controle monetário global, pois o tão questionado
Fundo Monetário Internacional, o FMI, perdeu “a sua capacidade de garantir a estabilidade
das finanças mundiais”. Mas por que tal documento? Tudo nasce da exigência de um organismo
que desenvolva as funções de uma espécie de Banco Central mundial, e que assim regule
o fluxo e o sistema das trocas monetárias, como atuam hoje os Bancos Centrais nacionais.
Em causa estão os sistemas de câmbio existentes.
O mercado financeiro global,
que cresceu muito mais rapidamente do que a economia geral, deve ser colocado sob
o controle de um “número mínimo de regras partilhadas”, entende o Pontifício Conselho
da Justiça e da Paz, que lamenta a falta de controle sobre movimentos de capitais
e a “desregulamentação das atividades bancárias e financeiras”.
O olhar do
Vaticano fixa-se naquele bilhão de pessoas que vivem em pleno século 21 com pouco
mais de um dólar por dia, uma realidade que apesar das Metas do milênio de reduzir
a pobreza mundial continua a registrar o aumento das desigualdades. O mundo ainda
gera enormes injustiças, deixando à margem bilhões de seres humanos que ainda dependem
de ajudas humanitárias para sobreviver.
Se essas injustiças não forem sanadas
os “efeitos negativos” que delas derivam para o plano social, político e econômico,
poderão gerar cada vez mais uma clima de crescente hostilidade, levando à violência,
violência que pode minar as próprias bases das instituições democráticas – como afirma
a nota – até mesmo as que se consideram mais sólidas.
Aponta-se entre as causas
da atual crise o “liberalismo econômico sem regras e sem controle”, uma situação já
enunciada em 1967, pelo Papa Paulo VI, com a sua encíclica ‘Populorum progressio’.
No documento destacam-se ainda “três ideologias devastadoras”: “utilitarismo, individualismo
e tecnocracia”. Uma situação econômica e financeira que se deve a “comportamentos
de egoísmo, avareza coletiva e acúmulos de bens em larga escala”.
Entre as
possíveis medidas a serem tomadas: “medidas de taxação das transações financeiras”
destinadas também a “contribuir para a constituição de uma reserva mundial, destinada
a apoiar as economias dos países atingidos pela crise, bem como para o controle do
seu sistema financeiro e monetário”.
O drama da fome e com como conseqüência
a crise econômica, só poderão ser combatidos com a eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento
e com a garantia de desenvolvimento a todas as regiões do planeta, destacou certa
vez Bento XVI. “O acesso à comida, mais do que uma necessidade elementar, é um direito
fundamental das pessoas e dos povos".
A crise financeira mundial demonstrou
a fragilidade do sistema econômico atual e das instituições a ela ligadas, e quem
paga são as economias mais fracas e o seu povo que tem direito a uma vida digna. É
hora de parar e rever os rumos para que o barco da humanidade não continue à deriva.
(Silvonei José)