Rio de Janeiro (RV) - Neste final de semana celebramos o Dia Nacional da Juventude!
É uma ótima ocasião para darmos alguns passos para a motivação e participação na Jornada
Mundial da Juventude que acontecerá aqui no Rio de Janeiro.
Estamos também
encerrando o mês das Missões com a firme convicção de estarmos permanentemente em
missão. A Palavra de Deus deste 31º Domingo do Tempo Comum ilumina nossas vidas para
vermos, tanto como missionários como também como sede da JMJ, aqueles que agem como
servidores – é uma missão, é um serviço, a que todos somos chamados a prestar, tanto
à Igreja como à Sociedade.
Quando lemos os Evangelhos, ainda ficamos surpresos
diante da acolhida que as multidões reservam para Jesus. Havia dias em que o Mestre
não tinha um momento de paz: as pessoas vinham de toda parte para ouvir sua palavra.
Os testemunhos dos Evangelhos dizem unanimemente que era principalmente a sua palavra
que encantava as multidões, e as pessoas aproximavam-se Dele principalmente para ouvi-Lo.
Jesus
anunciava de maneira nova aquilo que já estava inspirado e colocado por escrito na
Bíblia. Basta pensar no Evangelho do domingo passado, quando Jesus responde à pergunta
sobre o maior mandamento ao citar as palavras da lei judaica: “Amarás o Senhor teu
Deus com todo o teu coração!” (cf. Mt 22,27; Deuteronômio 6,5). Parece que as multidões
estavam cansadas de muitas palavras que ouviam nas sinagogas todos os sábados e, ao
invés disso, vieram até Jesus porque Ele "os ensinava como quem tem autoridade e não
como os escribas" (Mateus 7, 29).
Precisamente esta última referência revela
o segredo de Jesus – Ele falou "como quem tem autoridade". Havia uma autoridade em
seus discursos novos e inesperados, que os escribas e fariseus não possuíam. O último
fato – como o próprio Jesus diz no Evangelho deste domingo (Mt 23,1-12) – "dizem e
não fazem; atam fardos pesados e os põem aos ombros dos homens, mas eles não querem
movê-los com um dedo". E eles perderam a sua autoridade, porque só falam "para serem
vistos pelos homens", sem realmente acreditar no que diziam. É uma dura palavra que
ressoa até hoje em nossos ouvidos e nos questionam profundamente.
Esta é uma
crítica muito dura que Jesus dirige ainda hoje a todos nós, pois Jesus nos exorta
para não criticarmos os outros, mas para examinarmos a nós mesmos: de fato continua
seu discurso dizendo "você" e não "eles" ("não sejais chamados Rabi! E não sejais
chamado de mestres" - Mt 23,8.10).
Da mesma forma que aconteceu naquela época
aos escribas e fariseus, mas não aconteceu com Jesus, Ele falava com autoridade porque
Ele dizia e fazia. Estamos lendo a confirmação do Evangelho deste domingo, quando
Ele recomenda aos seus discípulos para ser servos uns dos outros: "o maior entre vós
será vosso servo" (Mateus 23, 11). Todos sabemos que Jesus, num gesto de doação, lava
os pés dos seus discípulos, e, com esse gesto, resume que o serviço de doação que
tantas vezes Ele recomendou e que Ele vai cumprir depois de algumas horas na cruz.
De
fato, Jesus disse e fez: ele falou com autoridade porque acreditava profundamente
no que dizia e diz para nós até hoje. Ainda ressoa em meus ouvidos as palavras do
Servo de Deus, o Papa Paulo VI, quando escreveu sobre a evangelização: “os homens
de hoje escutam muito mais as testemunhas que os mestres, e se escutam os mestres
é porque são testemunhas”. Aí está o grande segredo de todo trabalho e toda pregação,
seja nas igrejas, seja nas praças, seja pelos meios de comunicaçao e até mídias sociais:
ser testemunha daquilo que se fala. O segredo da missão evangelizadora está na pessoa
que atua! Por isso o texto do evangelho deste domingo nos questiona profundamente
e nos exorta a dar passos concretos na direção de uma vida coerente e transparente.
E este é o milagre: que possamos renovar e devolver um sentido de coerência para as
muitas palavras que trocamos e pregamos todos os dias.
Eu sou daqueles que
dizem e não fazem? A palavra de Deus queima os lábios se é mal pronunciada, mas ela
queima também se é pronuncida e não é vivida. Realmente, o que anuncio é porque as
palavras são eco de um fogo de vida no Espírito Santo que arde dentro de mim? Precisamos
ouvir o Senhor para depois, vivendo com alegria a Boa Nova, anunciar aos irmãos e
irmãs.
Podemos perceber no Evangelho algumas situações que esvaziam nossas
vidas e que deveriam ser mudadas em nosso dia a dia. Uma situação é a hipocrisia:
digo e não faço. A incoerência de vida diante do que falamos sem vivenciarmos com
simplicidade e coerência a Palavra de Deus. Outra situação é a vaidade: tudo fazem
para serem admirados. O objetivo é conseguir fama e nada mais. Não é um serviço ao
Reino de Deus. A vaidade torna o interior vazio. Ainda uma outra situação: o gosto
do poder: impõem cargas pesadas a todos. O Evangelho oferece alguns caminhos de mudança:
em vez de aparecer, agir secretamente; a simplicidade ao invés da duplicidade, o serviço
ao invés do poder. O maior mandamento, diz Jesus, é "Amarás" e na liturgia de hoje
acrescenta: o maior entre vós será vosso servo.
Ao celebrarmos, concomitantemente,
o Dia Nacional da Juventude, é bom lembrar que a juventudade dá muito valor à autenticidade
evangélica. A juventude quer líderes que tenham coerência na pregação e na ação. Notamos
isso pelos movimentos que espoucam por todos os cantos do mundo e também em nosso
país, exigindo coerência e transparência.
Aquele que é o Senhor e Salvador
de todos escolheu o caminho do servo: está aos pés de todos, é o servidor que lava
os pés dos discípulos. Aquele que é Deus conosco cinge uma toalha e quer curar todas
as feridas da terra. Servo sem igual! E se deve haver uma hierarquia na Igreja, será
invertida em relação às normas da sociedade sobre a terra: “vocês são todos irmãos”.
E, em seguida, inverteu novamente, por Cristo, que se tornou irmão, mas depois se
tornou o último dos irmãos. Jesus muda a raiz do poder. Nosso Senhor Jesus Cristo
revela que todo homem é capaz de poder, se ele é capaz do serviço.
Todos nós
que buscamos entender a sociedade hodierna e encontrarmos caminhos para uma convivência
pacífica entre os povos temos na Palavra deste domingo um bom caminho a seguir: Serviço.
Este é o nome secreto da civilização do amor, porque este é o estilo que Deus escolheu.
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ