"Enviados como cordeiros, não como lobos entre lobos!": Papa aos peregrinos, em oração
pelo Encontro de Assis, a 25 anos do que foi promovido por João Paulo II. Apelo sobre
a Turquia
(26/10/2011) Na véspera da “Jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela
justiça no mundo”, que congregará nesta quinta-feira, dia 27 representantes das diversas
confissões cristãs e de variadas religiões em Assis, com o Papa, a costumada audiência
geral desta quarta-feira deu lugar a uma liturgia da Palavra, presidida por Bento
XVI na Aula Paulo VI. O mau tempo não permitiu que este momento de oração tivesse
lugar, como previsto, na Praça de São Pedro. Os peregrinos que não puderam entrar
na vasta sala das audiências concentraram-se na basílica de São Pedro onde foram saudados
brevemente pelo Papa. “Com alegria,
vos acolho na Basílica de São Pedro e dou as minhas cordiais boas-vindas a todos vós
que não conseguistes lugar na Aula Paulo VI. Vivei sempre unidos a Cristo e testemunhai
com alegria o Evangelho. De coração, concedo a todos vós a minha Bênção.”
Na
homilia da liturgia da Palavra, na Aula Paulo VI, o Santo Padre comentou, em vista
do Encontro de amanhã em Assis, as Leituras: o modesto e humilde rei messiânico evocado
pelo profeta Zacarias (9, 9-10) e o envio dos discípulos de Jesus, no Evangelho (Lc
10, 1-11), como cordeiros no meio de lobos. “Quis dar a esta Jornada o título
de “Peregrinos da verdade, peregrinos da paz”, para significar o empenho que desejamos
renovar solenemente, juntamente com os membros de diversas religiões, e mesmo com
pessoas não crentes, mas que sinceramente procuram a verdade, na promoção do verdadeiro
bem da humanidade e na construção da paz… Como cristãos estamos convictos que o mais
precioso contributo que podemos dar à causa da paz é a oração”.
Falando
do “novo reino de paz do qual Cristo é rei”, Bento XVI sublinhou que “é um reino que
se estende a toda a terra”: “O reino que Cristo inaugura tem dimensões universais.
O horizonte deste rei pobre, manso, não é o de um território, de um Estado, mas são
os confins do mundo. Para além de toda e qualquer barreira de raça, de língua, de
cultura. Ele cria comunhão, cria unidade”.
Este Reino
de Deus exprime-se num “grande mosaico de comunidades em que se torna presente o sacrifício
de amor deste rei manso e pacífico: o grande mosaico que constitui o “reino de paz”
de Jesus, de um a outro mar, até aos confins do mundo”. “uma multidão de ilhas
de paz, que irradiam paz” – insistiu o Papa. “Como Jesus, os mensageiros de
paz do seu reino devem pôr-se a caminho, devem responder ao seu convite. Devem partir,
mas não com a potência da guerra ou com a força do poder”. Neste contexto, o Papa
citou uma bela expressão de São João Crisóstomo, que observa, numa sua Homilia: “Enquanto
formos cordeiros, venceremos. Mesmo se estivermos circundados de numerosos lobos,
conseguiremos superá-los. Mas se nos tornarmos lobos, seremos derrotados, porque ficaremos
privados da ajuda do pastor”. “Os cristãos nunca devem cair na tentação
de se tornarem lobos com os lobos; não é com o poder, com a força, com a violência
que se estende o reino de paz, de Cristo, mas sim com o dom de si, com o amor levado
até ao extremos, mesmo em relação aos inimigos. Jesus não vence o mundo com a força
das armas, mas com a força da Cruz, que é a verdadeira garantia da vitória”.
Aconcluir, Bento XVI, muito sugestivamente, partiu da grande imagem de São Paulo
que os fiéis podem observar na praça de São Pedro, representado como sempre com uma
grande espada nas mãos, para explicar que o Apóstolo dos gentios “não é um grande
condestável que tenha guiado potentes exércitos, submetendo com a espada povos e nações”.
Bem pelo contrário: “a espada que ele tem nas mãos é o instrumento com que lhe foi
dada a morte, com o qual sofreu o martírio, derramando o seu sangue”. A sua única
arma foi precisamente o anúncio de Jesus Cristo, e Cristo crucificado”. “Não
é a espada do conquistador que constrói a paz, mas sim a espada do sofredor, de quem
sabe dar a própria vida. Caros irmãos e irmãs, como cristãos queremos invocar de
Deus o dom da paz, queremos pedir-lhe que nos torne instrumentos da sua paz, num mundo
ainda dilacerado pelo ódio, por divisões, por egoísmos, por guerras. Queremos pedir-lhe
que o encontro de amanhã em Assis favoreça o diálogo entre pessoas de diferente pertença
religiosa e forneça um raio de luz capaz de iluminar a mente e o coração de todos
os homens, para que o rancor dê lugar ao perdão, a divisão – à reconciliação, o ódio
– ao amor, a violência – à mansidão, e no mundo reine a paz”.
No final,
Bento XVI saudou em diversas línguas os peregrinos presentes: “Uma saudação
amiga e encorajadora para todos os peregrinos de língua portuguesa, com menção especial
dos grupos brasileiros de Aracajú, Cachoeira Paulista, Gama, Recife e Rio de Janeiro.
Conto com a vossa oração pelos Representantes das várias Religiões que amanhã se reúnem
em Assis, a bem da justiça e da paz sobre a terra. Sobre vós e vossos familiares,
desça a minha Bênção.”
Bento XVI evocou também, com apreensão e participação
pessoal, “as populações da Turquia duramente atingidas pelo terramoto, que causou
graves perdas de vidas humanas, numerosos dispersos e ingentes danos”. “Convido-vos
a unir-vos a mim na oração por aqueles que perderam a vida, e a estar espiritualmente
próximos a tantas pessoas tão duramente provadas. Que o Altíssimo ampare todos os
que estão empenhados nas obras de socorro”.