2011-10-21 12:10:13

Santa Sé faz votos que se empreenda sem tardar a obra de pacificação e reconstrução da Líbia, com o apoio, generoso, da comunidade internacional


Sobre a captura e morte do líder líbico Muammar Kadhafi, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou, nesta quinta-feira à tarde, um comunicado em que se afirma, nomeadamente:

“A notícia da morte de Kadhafi conclui uma demasiado longa e trágica fase da sangrenta luta para depor um regime duro e opressivo. Estes dramáticos acontecimentos obrigam uma vez mais a refletir sobre o preço do imenso sofrimento humano que acompanha a queda de qualquer sistema que não esteja assente no respeito e na dignidade da pessoa, mas sim sobre a predominante afirmação do poder.
Há que fazer ainda votos de que, poupando ao povo líbico novas violências geradas por um espírito de desforra ou de vingança, os novos governantes possam empreender sem mais tardar a necessária obra de pacificação e reconstrução, com um espírito de inclusão, tendo como base a justiça e o direito; e que a comunidade internacional se empenhe em ajudar generosamente a reconstrução do país.
Pela sua parte, a pequena comunidade católica (da Líbia) – refere ainda o comunicado da Santa Sé - continuará a oferecer seu testemunho e o seu serviço desinteressado, em particular no campo caritativo e sanitário, e a Santa Sé empenhar-se-á a favor do povo líbio, com os instrumentos à sua disposição no campo das relações internacionais, no espírito da promoção da justiça e da paz.”

A este propósito, a nota da Santa Sé recorda ainda que “é prática constante da Santa Sé, ao estabelecer relações diplomáticas, reconhecer os Estados e não os Governos”, razão por que a Santa Sé não reconheceu (antes) formalmente o Conselho Nacional de Transição (CNT) como governo da Líbia. “Agora que se encontra instalado de modo efetivo, em Tripoli, como governo, a Santa Sé considera-o legítimo representante do Povo líbio, conforme as prerrogativas do direito internacional”.
Recorda-se também que, entretanto, a Santa Sé tinha mantido diversos contatos com as novas autoridades da Líbia: primeiro, da parte da Secretaria de Estado, com a Embaixada da Líbia na Santa Sé, logo após as mudanças políticas em Tripoli; depois, na sua recente participação na Assembleia Geral das Nações Unidas, o Secretário para as Relações com os Estados, D. Dominique Mamberti, encontrou-se com o Representante Permanente da Líbia na ONU, Adburrahman Shalgham; mais recentemente, o Núncio Apostólico na Líbia, D. Tomaso Caputo, que vive em Malta, deslocou-se a Trípoli para uma visita de três dias, tendo tido encontros com o Primeiro-Ministro do CNT, Mahmoud Jibril, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em todos estes encontros foi destacada, por ambas as partes, a importância das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Líbia. A Santa Sé teve a oportunidade de renovar seu apoio ao povo da Líbia e exprimir às novas autoridades os melhores votos de sucesso na reconstrução do país. Pela sua, os novos governantes exprimiram o seu apreço pelos apelos humanitários do Santo Padre e pelo empenho da Igreja na Líbia, sobretudo por meio do serviço nos hospitais ou outros centros de assistência de treze comunidades religiosas.

Entretanto, a Rádio Vaticano entrevistou D. Tommaso Caputo, Núncio Apostólico na Líbia…

R. – Perante a morte de um homem, deve sempre prevalecer os sentimentos de piedade cristã (para além dos sentimentos humanos, naturalmente). A gente não se pode, portanto, alegrar por um epílogo, a morte do Coronel Kadhafi, que se enquadra ainda sob o signo de um conflito que se prolongou por tanto tempo e que causou o sacrifício de muitas vidas humanas. Neste momento, mais do que nunca o que há que promover por toda a parte é a vontade sincera de assegurar a todo o país tempos realmente novos, sob o signo do regresso à concórdia social. E no momento em que se empreende a reconstrução do país, a todos os níveis, a começar pela reorganização do administração estatal, o objetivo de uma reconciliação nacional aparece como a possibilidade única e irrepetível à qual ligar a exigência de uma justiça social e a exigência do respeito, da dignidade de cada pessoa, como premissas essenciais para um desenvolvimento social ordenado e équo.

- Qual é, neste momento, a sua esperança para o país, para esta nova Líbia?
R. – Nos últimos quatro anos do meu serviço, como representante do Papa na Líbia, estive em estreito contacto com o povo líbio, visitando em especial as nossas religiosas, que atuam em treze estruturas nacionais de saúde, tanto na Cirenaica como na Tripolitánia. A minha convicção é que no coração dos líbios existem desejos de paz e de concórdia, facto que é promissor para o futuro.








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