Belo Monte: Para Dom Erwin, suspensão é 'vitória parcial'
Altamira
(RV) - A Justiça adiou a decisão sobre construção da usina de Belo Monte. O tribunal
deve analisar o recurso do Ministério Público Federal no Pará contra o decreto de
2005 do Congresso Nacional que autoriza a construção da usina. Os procuradores apontam
que a pressa na aprovação da medida teria impedido consultas obrigatórias às comunidades
indígenas atingidas pela obra.
Depois de concluída, a usina de Belo Monte será
a segunda maior hidrelétrica do país, atrás somente da binacional Itaipu, e a terceira
maior do mundo.
A hidrelétrica ocupará parte da área de cinco municípios:
Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, ao longo de
100 quilômetros do Rio Xingu. Em entrevista exclusiva à RV, o bispo prelado do Xingu,
Dom Erwin Krrautler, expressa a sua surpresa com satisfação, mas certo ceticismo:
“Primeiramente,
quero dizer que fiquei muito surpreendido. Estava voltando da Transamazônica, em visita
pastoral, e à noite fui informado de que a obra, o projeto Belo Monte, havia sido
praticamente paralisada. Temos que explicitar um pouco melhor o porquê de o juiz ter
decretado a paralisação de qualquer obra no rio, no leito do rio, mas não suspender
a construção da infra-estrutura, como por exemplo, as casas para os funcionários,
para os operários, nem as estradas de acesso à futura obra.
Aí a coisa está
meio duvidosa: é muito difícil dizer o que vai acontecer. O interessante é que o IBAMA
deu licença para comercializar os peixes ornamentais. E o mesmo IBAMA liberou o rio
para esta obra. Ora, se você libera o rio para a obra, a outra licença para a comercialização
de peixes ornamentais é furada. Não tem condição porque os peixes serão extintos,
não tem jeito. Então para nós, é claro, eu diria, é uma vitória parcial, mas por outro
lado, me questiono sobre o que vai acontecer. Por um lado, dizemos que não se pode
mexer com o rio, enquanto por outro, cria-se toda uma infra-estrutura para que se
mexa com o rio. Há uma contradição. Mas mesmo assim, é um ponto importante em nossa
luta, porque o juiz decretou esta liminar, e pode haver outras liminares”.
Altamira
é a mais desenvolvida dessas cidades e tem a maior população, quase 100 mil habitantes,
segundo o IBGE. Os demais municípios têm entre 10 mil e 20 mil habitantes.
Belo
Monte custará pelo menos R$ 25 bilhões, segundo a Norte Energia. Há estimativas de
que o custo chegue a R$ 30 bilhões.
Apesar de ter capacidade para gerar 11,2
mil MW de energia, Belo Monte não deve operar com essa potência. Segundo o governo,
a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar
abaixo de mil MW. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. O Governo
contesta e afirma que a energia a ser gerada é fundamental para o país. (CM)